WANDERLEY NOVATO
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL
A Responsabilidade Social Empresarial é um conceito que se refere às ações e esforços que uma empresa executa, baseados no propósito de “fazer o bem” para a sociedade e o planeta – pela constatação de que os esforços individuais, do Estado e do Terceiro Setor são insuficientes.
As discussões envolvem aspectos internos, tais como inclusão e diversidade cultural, como externos, tais como ecologia e direitos humanos.
Os tipos de atuação variam muito, e podem ou não ser baseadas no nicho de mercado em que a empresa atua. Algumas indústrias de ração animal doam toneladas de seus produtos todos os meses para ONGs protetoras de animais, além de promover feiras de adoções. A Deloitte, uma empresa internacional de consultoria e auditoria, agindo de forma bem diferente, escolheu desenvolver ações de voluntariado envolvendo seus funcionários. Ela promove um evento denominado Impact Day, que conta com a participação de centenas de colaboradores em uma ação que beneficia milhares de crianças e jovens. As atividades realizadas englobam ações de conscientização relacionadas ao meio ambiente, ciclo de palestras sobre diversos temas, criação bibliotecas e brinquedotecas organizadas pelos voluntários, e campanhas de doação de sangue – tudo isso muito afastado da atividade da empresa.
Costuma-se dizer que a Responsabilidade Social Empresarial é uma forma de cidadania empresarial. De um ponto de vista prático, costuma funcionar como um negócio paralelo à atividade principal da empresa, pois tem seus próprios objetivos e metas definidos. Algumas empresas têm áreas específicas, ou criam fundações, para cuidar das suas iniciativas nessa área.
O grau de envolvimento da organização depende basicamente de duas coisas:
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do tamanho do desejo de causar impactos;
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do porte da empresa.
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Mas qualquer tipo de negócio, não importa o porte da empresa, pode implementar a RSE.
A empresa, claro, vai ter que enfrentar o fato de que alguns considerarem essas iniciativas “falsas” ou “superficiais” - mas o número de consumidores que entende que essa é uma preocupação legítima e necessária está sempre aumentando, e deixando de ser um “nicho”.
Alguns trechos selecionados de trabalhos que tratam esse assunto:
A importância da Responsabilidade Social Corporativa como fator de diferenciação
Por Silvio Luiz Tadeu Bertoncello e João Chang Júnior
Trecho selecionado
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL COMO ESTRATÉGIA DE DIFERENCIAÇÃO
Segundo McWillians e Siegel (2002, p.35), a responsabilidade corporativa como uma estratégia de diferenciação, é usada para criar novas demandas e obter um preço premium para um produto ou serviço existente. Ainda segundo os autores, alguns consumidores querem que os produtos que compram apresentem alguns atributos de responsabilidade social (inovação de produtos). Outros consumidores valorizam produtos que são produzidos de forma responsável (inovação de processo).
É importante observar que essa diferença pode se dar de várias formas: no projeto do produto, na imagem da marca, na aplicação da tecnologia, nos serviços de pós-venda e atendimento, no sistema de distribuição e assim por diante. Com isso a empresa cria condições para cobrar preços acima da média de seus concorrentes, obtendo, assim, maior competitividade no mercado, ou mantém o mesmo preço médio de seus concorrentes, porém entregando maior valor ao mercado. Isso depende das condições competitivas do mercado em que a empresa está inserida. Uma empresa que opte pela diferença deve sempre procurar formas de obter um preço premium superior ao custo da diferenciação. Esta estratégia leva em consideração atributos que o mercado ou um segmento relevante valoriza (PORTER, 1989, p.111).
Para que a estratégia de diferenciação possa ser implementada é importante que a empresa leve em consideração algumas características inerentes a essa formulação estratégica, é necessário reservar recursos para investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e a área de P&D da empresa deve integrar-se com a área de marketing. Isso é crucial, pois, se não existir essa integração, o esforço de desenvolvimento de novos produtos, imagem de marca, sistemas de atendimento e demais atividades, como por exemplo, projetos de Responsabilidade Social, podem estar fora de sintonia com o que o mercado quer e percebe, gerando assim uma lacuna entre o custo da estratégia de diferenciação e o valor agregado por ela. Este é um dos principais riscos envolvendo a formulação estratégica via diferenciação. (GHEMAWAT, 2000, p.65)
Imagem é a maneira como o público vê a empresa ou seus produtos. Uma imagem efetiva precisa exercer três funções. Em primeiro lugar, ela precisa estabelecer a personalidade do produto e a proposta de valor. Em segundo, ela deve transmitir essa personalidade de maneira distinta, para que não seja confundida com a dos concorrentes. Em terceiro, ela tem de comunicar um poder emocional que vai além de uma simples imagem mental.Para que a imagem funcione, ela deve ser transmitida por todos os veículos de comunicação e contato de imagens disponíveis.
Toda estratégia é uma escolha e como tal apresenta vantagens e desvantagens associadas. A estratégia de diferenciação envolve alguns riscos. O primeiro deles é a imitação pura e simples por parte dos concorrentes e o segundo existe quando a empresa não conseguir expor para o mercado o valor diferenciado que desenvolveu em suas atividades, portanto, o custo de diferenciação é maior que a lealdade do mercado em relação à empresa.
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2) PADRÕES. NORMAS E CERTIFICAÇÕES
Se uma empresa decide considerar a utilização de normas e padrões que atestem a sua postura responsável, existem algumas opções. A importância de normas e padrões está principalmente na definição e concordância de termos e procedimentos, o que permite uma certa comparabilidade da empresa com o restante do mercado.
Com relação à responsabilidade social, são dois os principais padrões existentes: SA8000 (Social Accountability 8000) e AA1000 (AccountAbility 1000).
A SA8000 é uma certificação internacional que tem como objetivo a garantia de direitos básicos dos trabalhadores, sendo mais adaptável a empresas que possuam processos produtivos industriais.
É baseada em convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e em outras convenções das Nações Unidas (ONU). A norma SA 8000 traz todos os requisitos e a metodologia de auditoria para uma correta avaliação das condições do local de trabalho. Estas condições incluem trabalho infantil, trabalhos forçados, saúde e segurança no trabalho, liberdade de associação, discriminação, práticas disciplinares, carga horária, benefícios e as responsabilidades da gerência em manter e melhorar as condições do trabalho.
A norma é considerada como a mais propícia para aplicação global de processos de auditoria de locais de trabalho, e pode ser implementada em instalações de qualquer porte, região ou setor da indústria.
Algumas características da norma SA 8000 incluem certos cuidados na divulgação de informações confidenciais a terceiros, a credibilidade dada a entrevistas com funcionários – que poderão ser confidenciais e ocorrer fora das dependências da empresa – e a coleta de provas em fontes externas à empresa, como, por exemplo, em departamentos locais de saúde, agências de estudos econômicos, igrejas ou escolas. O escopo do registro não deve se limitar a apenas alguns edifícios, linhas de montagem, processos ou divisões: todas as instalações deverão avaliadas, desde áreas de recreação até dormitórios, quando disponíveis.
Além da norma SA 8000 há outras normas nesta categoria, entre elas, o Fair Labor Association Code, o American Apparel Manufacturers Code, o International Council of Toys Industries Code, além de vários códigos próprios das empresas. Cada norma ou código tem pequenas variações em seu escopo, em seus requisitos de monitoração e aceitação.
Os principais beneficiados da norma SA 8000 e de outros códigos de Responsabilidade Social incluem: 1) varejistas, em busca de garantias na cadeia de suprimentos, os gestores Relações Públicas e de mídia favorável; 2) empresas que apoiam o consumo de produtos “éticos” e “verdes”; 3) o interesse e a pressão dos próprios consumidores; 4) o setor que investe em responsabilidade social.
O AA1000 é um modelo de gestão auditável sugerido pela organização inglesa ISEA, que estabelece passos para a adoção de um processo ético e socialmente responsável, melhorado continuamente, e que tem como base o diálogo com os stakeholders.
No Brasil, a iniciativa do Instituto Ethos, organização referência da responsabilidade social empresarial no país, engloba indicadores que são aplicados pelas empresas voluntariamente (os indicadores Ethos). Os temas abordados pelo instrumento são: valores e transparência, público interno, meio ambiente, fornecedores, consumidores, comunidade e governo e sociedade.
Através dele, as empresas têm a possibilidade de comparar seus resultados com o cenário global das outras empresas respondentes.
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O que é a norma ISO 26000 e como ela define a RSE ?
Em: https://www.ibccoaching.com.br/portal/conheca-o-conceito-de-responsabilidade-social-empresarial-rse/
A norma ISO 26000 define a RSE como a responsabilidade assumida por uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades sobre a sociedade e o meio ambiente.Através de um comportamento transparente e ético ela:
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Contribui para o desenvolvimento sustentável, a saúde e o bem-estar da sociedade;
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Considera as expectativas dos stakeholders (os stakeholders são pessoas ou entidades afetadas pelas atividades de uma determinada empresa);
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Está em conformidade com a legislação e em harmonia com as normas internacionais de comportamento;
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Está integrada em toda a organização e implementada em suas relações.
6 temas básicos indicados pela ISO 26000
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Direitos Humanos
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Práticas Trabalhistas
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Meio Ambiente
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Práticas de Funcionamento Justas
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Problemas do Consumidor
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Participação e Desenvolvimento da Comunidade
A RSE se difere da ação filantrópica, visto que a primeira diz respeito a doações à ONGs e outras instituições. A Responsabilidade Social Empresarial requer planejamento e análise das necessidades sociais, além do estudo de ações que não prejudiquem a saúde do negócio. Para que o conceito seja aplicado de forma eficaz, é preciso que a empresa trace estratégias para sua implementação.
Vantagens da Responsabilidade Social Empresarial
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Assegura uma imagem positiva da organização perante a sociedade;
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Fideliza o cliente;
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Provoca impactos positivos na comunidade;
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Retém os colaboradores mais qualificados na empresa, pois eles vão preferir trabalhar em uma empresa que prioriza os direitos dos cidadãos e a qualidade de vida;
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Gera motivação dos profissionais da organização;
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Aumenta a produtividade;
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Cria diferencial competitivo;
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Atrai parceiros, fornecedores e investidores que queiram colaborar com a causa social;
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Eleva as oportunidades para as pessoas impactadas com as ações da empresa;
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Auxilia a organização a administrar riscos e lidar com gestão de crise;
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Minimiza a escassez dos próprios recursos da instituição e da natureza.
Aplicar o conceito de Responsabilidade Social Empresarial não é uma tarefa fácil. O primeiro passo diz respeito à mudança cultural nos processos da organização, aliando as ações sociais com o objetivo natural de uma empresa — que é o de gerar lucro. Para tanto, ela precisa, minimizar os riscos, trabalhando de forma sustentável.
Sustentabilidade e Responsabilidade
A sustentabilidade não está só na empresa ou na sociedade, com os patrões ou com empregados, com as pessoas ou com o meio ambiente. Precisa estar nas relações e em toda cadeia do negócio.
Portanto, a melhor forma de avaliar a Responsabilidade Social Empresarial (RSE) de fornecedores é através do relacionamento e de toda forma de realizar o negócio, sendo corresponsável pelos insumos e serviços adquiridos, tornando a sua própria prática transparente para a sociedade.
A Responsabilidade Social Empresarial pode ser organizada em quatro critérios para avaliação, informações, conhecimento e aprendizado:
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Funcionários e Fornecedores – verificar questões sociais; o respeito a legislação trabalhista; se possui CIPA, sobre princípios e direitos fundamentais no trabalho; liberdade sindical; reconhecimento do direito da negociação coletiva; eliminação de trabalhos forçados e discriminatórios;
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Meio Ambiente – verificação da licença ambiental; se a empresa estabelece a gestão de resíduos da construção civil conforme resolução CONAMA e legislação municipal ou estadual vigente; se a empresa possui setor específico para as questões de meio ambiente; se possui algum programa ou investe em tecnologia para conservação de energia e recursos naturais; análise e ciclo de vida de seus produtos.
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Comunidade e Sociedade – verificar se a empresa possui política sobre medidas reparadoras em resposta à reclamações e manifestações da comunidade; recebeu reclamações ou manifestações da comunidade ou de organizações da sociedade civil (abaixo-assinado, protestos, petições por questões como: excesso de lixo, geração de mau cheiro, efluentes, excesso de tráfego, interferência nos sistemas de comunicação e outras)
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Transparência e Governança – verificar se a empresa possui uma carta de princípios éticos ou uma política socioambiental; se possui na sua política de compra a seleção de fornecedores que sejam licenciados e que não possuam passivos ambientais; se possui política ou, fazem parte da política, práticas anticorrupção; se expõe publicamente seus compromissos éticos por meio de material institucional, pela internet ou por outros meios de comunicação; se atua de acordo com a legislação em vigor; dispõe de conselho consultivo e demonstrações financeiras auditadas; se a empresa segue práticas de preço e concorrência, cumprimento a legislação negando e evitando pirataria, sonegação fiscal, contrabando, adulteração de marcas e falsificação de produtos.