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Evidências Teóricas para a Compreensão das Redes Interorganizacionais

 

Alsones Balestrin

 

Lilia Maria Vargas

 

 

 

(...)

2. Fatores relacionados à formação das redes

 

 

Uma das questões de amplo interesse nos estudos sobre redes é entender as condições, contingências e demais fatores críticos presentes na formação e manutenção das redes interorganizacionais. Isso certamente é justificado pela própria natureza das redes, que conforme Morin (1977), são formas complexas de organizações. Mesmo assim, existem alguns estudos que sinalizam alguns fatores sob os quais as redes interorganizacionais são estruturadas. Esses fatores poderiam ser amplamente denominados de fatores viabilizadores e fatores contingenciais.

Como fatores viabilizadores, podem ser indicados os elementos necessários a formação e manutenção de uma rede interorganizacional. Neste sentido, Castells (1999)

argumenta que a formação e desempenho de uma determinada rede dependerão de dois de seus atributos fundamentais: a conectividade, ou seja, a capacidade estrutural de facilitar a comunicação sem ruídos entre seus componentes; e, a coerência, isto é, a medida em que há interesses compartilhados entre os objetivos da rede e de seus atores.

 

Para melhor entender o aspecto da conectividade, deve-se considerar o papel representado pelas tecnologias de informação, servindo como infra-estrutura responsável pelo considerável aumentado do fluxo informacional interorganizacional, desenvolvendo assim, a potencialidade das conexões entre os atores. Quanto à dimensão da coerência, muito da pré-disposição em cooperar e compartilhar objetivos comuns está relacionado com aspectos culturais inerentes àquele grupo ou rede de atores.

Segundo Marcon & Moinet (2000), para que uma rede possa ocorrer na prática, três elementos devem ser combinados: a) recursos a trocar, que constituem a base da rede, como informação, conhecimento e insumos. Nesse sentido, um conjunto de atores que nada tem a trocar dificilmente constituirão uma rede; b) info-estrutura , que designa o conjunto de regras de funcionamento e ética que deverá ser observada entre os membros; e, c) infra-estrutura, que compõe os meios práticos de ação, tais como: orçamento, local, material, comunicação, conexão eletrônica, etc.

Como fatores contingenciais à formação de redes interorganizacionais, Oliver (1990)

apresenta seis generalizações determinantes na formação das redes:

 

  1. necessidade – uma organização frequentemente estabelece elos ou trocas com outras organizações por necessidade. Essa contingência está sustentada por estudos oriundos, principalmente, das abordagens de dependência de recursos, enfatizando que a formação de redes é fortemente contingenciada pelos escassos recursos do ambiente;

 

  1. assimetria - sob essa contingência as relações interorganizacionais são induzidas pelo potencial exercício de poder de uma organização sobre outra. Em contraste com os motivos de “dependência de recursos”, a abordagem da assimetria de poder explica que a dependência de recursos promove as organizações ao exercício do poder, influência ou controle por parte daquelas organizações que possuem os recursos escassos;

 

 

  1. reciprocidade – ao contrário da contingência da assimetria dentro das relações interorganizacionais, uma considerável proporção da literatura sobre redes interorganizacionais, implícita ou explicitamente, assume que a formação das relações está baseada na reciprocidade. Motivos de reciprocidade enfatizam a cooperação, colaboração e a coordenação entre organizações, ao invés de dominação, poder e controle. Acordando com essa perspectiva, as redes interorganizacionais ocorrem para o propósito de buscar interesses e objetivos comuns;

 

  1. eficiência - a eficiência é a única dessas seis contingências que apresenta uma orientação interna, ao buscar uma melhor performance na eficiência organizacional. A perspectiva dos custos de transação (Williamson, 1985) é consistente com o argumento de que a eficiência interna é uma questão fundamental para a formação de redes interorganizacionais;

 

 

  1. estabilidade – a formação de redes tem frequentemente sido caracterizada como uma resposta à incerteza ambiental. O ambiente incerto é gerado por recursos escassos e pela falta de perfeito conhecimento das flutuações ambientais. Incerteza induz organizações a

estabelecer e gerenciar inter- relações para encontrar estabilidade e predicabilidade do ambiente (Provan, 1984; Stearns et al., 1987).

 

  1. legitimidade – a legitimidade é um motivo das organizações participarem em redes. Sustentada fundamentalmente pela teoria institucional, a qual sugere que o ambiente institucional impõe pressões sobre organizações para justificar suas atividades e resultados.

 

Oliver (1990) argumenta que essas contingências são a causa que induz ou motiva organizações a estabelecerem relações interorganizacionais, isto é, elas explicam as razões porque organizações escolhem relacionar-se com outras. Embora cada determinante é uma

causa suficientemente separada para a formação de tais relacionamentos, essas contingências, geralmente, ocorrerem simultaneamente.

 

 

Dessa forma, segundo a perspectiva contingencial, subjacente a formação das redes interorganizacionais poderão estar as seguintes razões: exercer influência sobre reguladores (assimetria); promover a coletividade entre os membros por meio do compartilhamento de informações (reciprocidade); obter vantagens econômicas, como por exemplo, melhores recursos e fornecedores (eficiência); reduzir incerteza competitiva através de esforços para padronizar produtos ou serviços de cada ator da rede (estabilidade); ou, melhorar a imagem da rede e de seus atores (legitimidade).

 

Outro fator crítico na formação das redes interorganizacionais está relacionado com a necessidade de flexibilização das organizações, provocado pelo crescente processo de competição e instabilidade que exige das empresas velocidade e adaptabilidade. Assim, o modelo de redes surge como uma alternativa às fragilidades da organização do tipo burocrática. Esse fato, segundo Galbraith (1995), foi forte condicionador das formas organizacionais em rede. Da mesma forma, Quinn et al. (1996) argumentam que a forma organizacional em rede prevalecerá como a estrutura dominante por estar adaptada aos ambientes hipercompetitivos.

 

Deve-se destacar, também, que três outras características sociológicas estão associadas com a formação de redes, observadas por Marcon & Moinet (2000), a partir das orientações de Crozier & Ehrard (1977):

 

 

  1. uma rede ocorre sobre uma campo de ação coletivo estruturado, assim, para Crozier & Ehrard (1977) não existe um campo de ação neutro, não estruturado. Nenhum ator está em posição neutra dentro do campo de ação da rede. Essa característica geral do campo de ação coletivo conduz a primeira dinâmica da estratégia em rede: a criação de uma rede de atores procede de uma lógica do “transplante” e não da “plantação em terreno nu”;

 

  1. não existe nenhum modelo universal de rede, logo sua forma é contingente as características do campo de ação coletivo, dentro do qual ela pretende operar. Para Crozier & Ehrard (1977), toda solução dos problemas de ação coletivo é contingente e não existe uma única melhor maneira de fazer. A estratégia não é uma ciência exata. A cultura própria em cada campo de ação (econômico, social, cultural, político, etc) induz as várias formas possíveis de redes;

  2. a rede é o centro do processo de aprendizagem coletivo que se opera dentro do campo de ação coletivo, dessa forma, o campo de ação evolui sem cessar ao ritmo da aprendizagem coletiva que ocorre entre seus atores.

 

As evidências teóricas apresentadas neste item indicam uma série de fatores que podem exercer algum tipo de relação com a formação e performance de uma rede interorganizacional, dessa forma, o entendimento desses fatores é parte fundamental para a compreensão das redes interorganizacionais.

 

3. Atributos estratégicos das redes

 

 

Para Castells (1999), uma estrutura social baseada em rede é um sistema aberto, altamente dinâmico e suscetível de inovação. Ainda, conforme esse autor, as redes são instrumentos apropriados para a economia capitalista baseada na inovação e globalização, para trabalhadores e empresas voltadas a flexibilidade e adaptabilidade, para uma cultura de desconstrução e reconstrução contínuas, para uma política destinada ao processamento de novos valores, e, para uma organização social que vise a suplantação do espaço e do tempo.

Muitos são os benefícios da configuração em redes apontados pela literatura analisada, principalmente em relação aos atributos de flexibilidade e adaptabilidade frente a um ambiente competitivo. Nesse sentido, Marcon & Moinet (2000), apresentam alguns dos principais atributos das redes que parecem essenciais dentro de uma perspectiva estratégica:

 

  1. Fluidez – significa a capacidade de flexibilidade e adaptabilidade das redes. As redes se adaptam melhor as novas dimensões do ambiente. Essa propriedade fundamental permite as redes efetuarem quatro tipos de inter-relações: 1) dentro do espaço – a rede permite colocar em relação subconjuntos ou unidades geograficamente dispersas; 2) dentro do tempo

 

– a rede assegura a permanência das ligações entre atores; 3) dentro do ponto de vista social – a rede permite colocar em relação atores em condições diferentes, sem implicar a mudança dessa condição; e, 4) dentro do ponto de vista organizacional – a rede pode tornar-se uma alternativa à forma de organização burocrática;

 

  1. Finalidade – é a razão de ser política, religiosa, filosófica, científica, econômica, cultural e social das redes. Essa finalidade se encontra por vezes incorporada dentro dos membros da rede. No entanto, ela é necessária e orienta habitualmente as escolhas da dimensão ética dentro do qual evolui a rede e inspira seus projetos.

 

  1. Capacidade de realizar economias relacionais - a rede reduz a dispersão de esforços e permite um ganho de tempo. A interconexão entre os atores significa agilidade.

 

 

  1. Capacidade de aprendizagem - a aprendizagem não é uma exclusividade das redes, mas as condições de aprendizagem dentro do contexto específico das redes é particular. A aprendizagem coletiva apresenta a lógica do ciclo de aprendizagem, ou seja, cada um evolui em função do outro.

 

Castells (1999) destaca que o novo sistema produtivo depende de uma combinação de alianças estratégicas e projetos de cooperação ad hoc entre empresas, unidades descentralizadas de grandes empresas e redes de pequenas e médias empresas que se conectam entre si ou com grandes empresas ou redes empresariais. O autor ainda acrescenta, que nessa estrutura, o mais importante elemento para uma estratégia administrativa bem sucedida é posicionar a empresa na rede, de modo a ganhar vantagem competitiva para sua posição relativa.

 

Ebers & Jarrillo (1998) destacam que por meio de redes interorganizacionais, uma

empresa poderá alcançar e sustentar vantagens competitivas, a partir das seguintes origens: a) ela poderá ser produzida por aprendizado mútuo que levará a melhor suportar o desenvolvimento de produtos; b) ela poderá ser alcançada a partir de uma estratégia de co-especialidade pelo qual firmas membras tornam-se lucrativas em novos nichos de produtos e mercados; c) ela poderá resultar de um melhor fluxo de informação e melhor coordenação do fluxo de recursos entre os atores da rede; d) ela poderá originar-se de economia de escala que podem ser encontradas através de esforços conjuntos de pesquisa básica e outros esforços de P&D; e, e) ela poderá resultar, também, a partir de altas barreiras que podem proteger os atores integrantes da rede.

 

Dentro do universo das PMEs a estratégia em rede poderá representar um fator altamente crítico, na medida em que essas empresas, muitas vezes, apresentam fortes limitações de recursos humanos e financeiros para atingir de forma individualizada certos objetivos. Dessa forma, Human & Provan (1997), a partir de pesquisas realizadas, identificaram quatro grupos de principais resultados alcançados pelas PMEs organizadas em redes:

 

  1. trocas interfirmas - refere-se as transações diretas entre as firmas da rede. As principais inter-relações foram de negócios (compra e venda de produtos entre as empresas da rede), de informação (informações tecnológicas, de mercado, de produtos, de soluções de problemas), de amizade (existe um ambiente de trabalho amistoso e de confiança entre os membros da rede) e de competências (pelo fato de existir um ambiente de compartilhamento de melhores práticas entre os atores);

 

  1. credibilidade organizacional – diz respeito ao ganho de legitimidade externa pelo fato das empresas estarem associadas a rede;

 

  1. acesso de recursos – refere-se ao papel das redes no sentido de facilitar para seus membros o acesso a novos mercados e novas ideias de produtos;

 

 

  1. performance financeira - alguns firmas descreveram os benefícios econômicos que alcançaram, dentro de um curto espaço de tempo, após organizarem-se em rede.

 

 

Outro relevante benefício das relações colaborativas interfirmas está no favorecimento ao acesso a grande quantidade de conhecimento. Segundo alguns autores, quanto maior for a interação interfirmas, maior será o incentivo e oportunidade de compartilhar informação e conhecimento (Boorman, 1975; Krackhardt, 1992). Essa argumentação também é defendida por Powell (1998) no momento em que destaca que a localização da inovação é encontrada em redes interorganizacionais, em vez de firmas individuais.

 

A estrutura em rede, então, funciona como um importante canal de comunicação em que cada firma conectada será tanto recebedora quanto transmitente de informação (Rogers & Kincaid, 1981). O papel das redes interfirmas como um mecanismo difusor de informação e facilitador de troca de conhecimento pode ser significante no contexto tecnológico (Powell, Koput & Smith-Doerr, 1996), pois a inovação é freqüentemente uma atividade intensiva em informação e conhecimento externo à empresa.

 

Para Ahuja (2000) as ligações colaborativas interfirmas podem ser associadas com duas distintas formas de benefícios das redes: a) elas podem fornecer o benefício de compartilhar recursos permitindo firmas combinar conhecimento, habilidades e bens físicos; e, b) ligações colaborativas podem fornecer acesso a conhecimento, servindo como condução de informações através das quais novas técnicas são descobertas, novos insights para problemas são encontrados. Esses dois benefícios podem ser considerados como know-how e informação. Know-how é o acúmulo de habilidades e experiência dentro de algumas atividades, geralmente formado por amplo conhecimento tácito e não codificado. Já a informação, refere-se a fatos codificados, podendo ser mais facilmente transmitida por meio da comunicação.

 

Castells (1999) em sua obra “sociedade em rede” argumenta que a atual “sociedade informacional” apresenta uma forma específica de organização social em que a geração, o processamento e a transmissão da informação tornam-se as fontes fundamentais de produtividade e poder sendo que a configuração em rede apresenta-se mais eficaz dentro desse paradigma econômico. No entanto, Powell (1998) destaca que mesmo com essas evidências teóricas da importância das redes no subsídio ao processo informacional e de criação de conhecimento, conhece-se muito pouco sobre como efetivamente o conhecimento é gerado e transferido dentro do universo das redes interorganizacionais. Observa-se, então, que as redes possuem vários atributos estratégicos, que são dificilmente encontrados nas empresas trabalhando de forma individualizada.

 

 

A literatura apresenta evidências sobre as vantagens estratégicas das empresas por meio de redes interorganizacionais. Esses benefícios são reconhecidos por estrategistas como Porter (1998, 1999, 2000) e exercem uma importancia ainda mais reconhecida quanto se trata de PMEs, questão que será aprofundada na seção 5.

 

 

4. Tipologias de redes interorganizacionais

 

 

Existe uma diversidade muito grande de tipologias de redes interorganizacionais, o que tem provocado uma certa ambiguidade no próprio entendimento sobre o termo. Essa questão foi objeto da análise de Castells (1999), argumentando que as redes interorganizacionais aparecem sob diferentes formas, em diferentes contextos e a partir de expressões culturais diversas. Exemplos disso, são as redes familiares nas sociedades chinesas; as redes de empresários oriundos de ricas fontes tecnológicas dos meios de inovação, como por exemplo, no vale do Silício; as redes hierárquicas comunais do tipo keiretsu japonês; as redes organizacionais de unidades empresariais descentralizadas de

 

 

antigas empresas verticalmente integradas e forçadas a adaptar-se às atuais realidades; as redes internacionais resultantes de alianças estratégicas entre grandes empresas que operam em diversos países; e, as redes horizontais de cooperação entre PMEs, encontradas no norte da Itália.

 

Buscando uma melhor compreensão sobre a diversidade de tipologias de redes interorganizacionais, Marcon & Moinet (2000) apresentaram um gráfico denominado de “mapa de orientação conceitual”, indicando, a partir de quatro quadrantes, as principais dimensões sob as quais as redes são estruturadas, conforme figura 01.

 

HIERARQUIA (rede vertical)

 

CONTRATO (rede formal)

 

CONIVÊNCIA (rede informal)

 

COOPERAÇÃO (rede horizontal)

 

Figura 01: Mapa de orientação conceitual para a classificação das redes

 

Fonte: Adaptado pelo autor, a partir do modelo de Marcon & Moinet, 2000.

 

Deve-se destacar que em cada um dos diversos pontos do quadrante poderá ser encontrado um tipo particular de redes, elucidando, assim, a ampla diversidade de tipologias de redes. Logo, de acordo com as orientações desse mapa conceitual, bem como as evidências de outros estudos, as redes podem ser amplamente classificadas da seguinte forma:

 

  1. redes verticais: a dimensão da hierarquia – certas redes têm uma clara estrutura hierárquica. Segundo Marcon & Moinet (2000) essa configuração é utilizada, por exemplo, pelas grandes redes de distribuição que adotam a estratégia de redes verticais para estar mais próximas do cliente, como ocorre com as grandes redes de distribuição integradas, distribuição alimentar e bancos. Geralmente essas relações são do tipo às estabelecidas entre matriz/filial, onde as filiais possuem pouca autonomia jurídica e de gestão. Dentro dessa dimensão hierárquica encaixa-se a noção de “empresa em rede” buscando designar as empresas cuja organização adotam a configuração de rede em razão da dispersão espacial. Outras redes de subcontratação também podem encaixar-se nessa dimensão;

  2. redes horizontais: a dimensão da cooperação - as redes de cooperação interfirmas são constituídas de empresas que guardam cada uma sua independência mas optam em coordenar certas atividades específicas de forma conjunta, com os seguintes objetivos: criação de novos mercados, suportar custos e riscos em pesquisas e desenvolvimento de novos produtos, gestão da informação e de tecnologias, definição de marcas de qualidade, defesas de interesses, ações de marketing, entre outras. Essas redes se formam sob a dimensão da cooperação de seus membros, que escolhem a formalização flexível para melhor adaptar a natureza de suas relações. Dentro desse modelo de cooperação interorganizacional, existe uma grande heterogeneidade de formas, como os consórcios de compra, associações profissionais, redes de lobbying, alianças tecnológicas (Marcon & Moinet, 2000). Em termos de estratégia em rede, as relações interfirmas formam um ambiente de aprendizagem por meio da cooperação. Essas relações são complexas dentro das quais os atores concorrentes escolhem

 

 

cooperar dentro de certo domínio. Assim, as redes favorecem a concentração de esforços não privando a liberdade de ação estratégica de seus membros;

 

  1. redes formais: a dimensão contratual – Knorringa & Meyer-Stamer (1998) argumentam que algumas redes são formalizadas por meio de termos contratuais, que vão estabelecer regras de conduta entre os atores. Redes como o caso das alianças estratégicas, consórcios de exportação, joint-venture e franquias são exemplos de redes fortemente formalizadas.

  2. redes informais: a dimensão da conivência – As redes de conivência permitem os encontros informais entre os atores econômicos (empresas, organizações profissionais, instituições, universidades, associações) portadores de preocupações comuns. Esses reencontros permitem trocar experiência e informação sobre as bases da livre participação. Essas redes de conivência permitem também criar uma cultura de cooperação e de favorecer o estabelecimento de relações interempresariais mais seguidas (Marcon & Moinet, 2000). Nessa dimensão, as redes são formadas sem qualquer tipo de contrato formal estabelecendo regras, agem em conformidade com os interesses mútuos a alcançar, baseados, sobretudo, na confiança entre os atores.

Outra importante dimensão na formação das redes é a dimensão tempo, em que certas redes são estabelecidas por um período determinado de tempo (uma joint-venture para determinado projeto tecnológico), enquanto outras, são formadas para um indeterminado período de tempo (um rede associativa de PMEs).

De acordo com as contribuições apresentadas neste item, observa-se que dificilmente existirão duas redes estruturadas de forma idêntica. Assim, o esforço de tentar abranger todas as possibilidades de redes interorganizacionais em algumas dezenas de tipologias pré-definidas, não deixa de ser uma forçada simplificação da ampla diversidade e possibilidade de tipologias de redes. Diante das peculidaridades das redes, o modelo (figura 01) apresentado por Marcon & Moinet (2000) permite uma ampla classificação das diferentes dipologias de redes.

 

5. Redes de PMEs (Pequenas e Médias Empresas)

 

Não obstante a diversidade nas tipologias de redes interorganizacionais, a grande maioria dos estudos e pesquisas dentro desse campo (principalmente por autores anglo-saxões) tem privilegiado os arranjos como joint-ventures e outras formas de alianças estratégicas entre grandes empresas. Nesse sentido, Human & Provan (1997) argumentam que, embora as PMEs podem beneficiar-se substantivamente da estratégia em rede, muitas das pesquisas sobre redes tem privilegiado o estudo da configuração de redes entre grandes empresas. Com exceção de alguns estudos isolados, como é o caso de Inzerilli (1990) que usou a perspectiva de custos de transação para descrever como uma base de confiança num contexto social facilita o sucesso das empresas do norte da Itália. Brusco & Righi (1989) e Lorenzoni & Ornati (1988) que confirmaram a importância de fatores ambientais para o crescimento de PMEs por meio de redes. Ou o trabalho de Saxenian (1994) que descreveu a emergência de uma infra- estrutura dentro dos Estados Unidos para suportar o “estilo europeu” de sistemas cooperativos.

Para Perrow (1992) o fenômeno das redes de PMEs tem tomado pouco espaço tanto dentro das teorias clássicas quanto dentro das teorias críticas. No entanto, a forma de produção representada pela grande firma integrada, defendida originalmente por Chandler, tornou- se um modelo declinante frente às contemporâneas necessidades de flexibilização. Perrow (1992) acrescenta que o problema com a teoria de Chandler foi completamente negligenciar o papel atribuído à confiança e cooperação dentro desse modelo econômico. Já as teorias críticas (marxistas) lançam uma forte crítica ao modelo capitalista, sendo o foco maior de preocupação a exploração dos trabalhadores nas firmas. No entanto, pouco falam

 

 

sobre o tamanho da firma, as redes inter- firmas, o redesenho da produção, as associações de negócios, a competição, a eficiência, e a infraestrutura que tornam as redes viáveis. Então, segundo Perrow (1992), ambas as teorias clássicas e críticas necessitam ser questionadas, pois ambas negligenciaram o poder econômico de três fatores que ajudam explicar o sucesso das redes de PMEs: economias de escala por meio de redes; confiança e cooperação coexistindo com competição; e ao estado de bem estar social causado pelo aumento da eficiência de setores industriais regionais.

 

A dimensão da confiança e cooperação, possivelmente, representam um papel central no sucesso alcançado pelas redes de PMEs, que dificilmente serão alcançadas por outras formas de redes de grandes empresas e muito menos pelas grandes empresas integradas. Esse fato foi levantado por Sabel (1991) ao destacar que a confiança nunca poderá ser intencionalmente criada, e sim gerada a partir de uma estrutura ou contexto adequados. Diante dessa evidência, Perrow (1992) argumenta que mesmo a confiança não podendo ser criada, ela poderá ser encorajada por uma estrutura ou contexto que podem ser deliberadamente criados. Assim, existem algumas características no contexto das redes de PMEs que formam um ambiente profícuo na geração de confiança entre as firmas, entre elas: a) as firmas compartilham e discutem informação sobre mercados, tecnologias e lucratividade, b) suficiente similaridade entre processos e técnicas das firmas e assim cada uma poderá entender e julgar o comportamento das outras, c) relações a longo prazo, d) pouca diferença entre tamanho, poder ou posição estratégica das firmas, e) rotação de lideranças para representar o conjunto de firmas, f) similar recompensa financeiras para as firmas e empregados dentro delas e, g) vantagem econômica pela experiência coletiva das firmas, pelo aumento das vendas e ganhos marginais. Onde existem essas condições a possibilidade da confiança é aumentada. Sendo que as redes de PMEs maximizam a possibilidade dessas condições, enquanto o modelo de produção integrada não.

Para um melhor entendimento das especificidades das redes de PMEs é necessário fazer uma distinção com outros arranjos como joint-ventures e alianças estratégicas. Nesse sentido, Human & Provan (1997), salientam que as redes de PMEs diferem das joint-ventures e outras formas de alianças estratégicas entre grandes empresas ao longo de três principais dimensões:

  1. As redes de PMEs são geralmente criadas para fornecer um fórum direto de atividades e relações entre os seus membros. Os membros permanecem independentes, mesmo trabalhando em atividades conjuntas. Os atores dessas redes perseguem objetivos comuns por meio de interações coordenadas de dez, vinte ou mais firmas individuais. Enquanto que joint-venture são, geralmente, formadas por duas grandes empresas;

  2. As redes de PMEs promovem complexas e recíprocas interdependências na qual os seus membros fornecem inputs e recebem outpus uns dos outros. Essas inter-relações são usualmente coordenadas pelas próprias firmas da rede. Esses mecanismos de coordenação são geralmente informais e facilitados pela própria dinâmica de interação entre os membros. Já na joint-ventures a coordenação é exercida por meio de contratos formais;

  3. O critério de participação em uma rede de PMEs enfatiza a proximidade geográfica pelo qual as firmas membras combinam competências centrais para o alcance de objetivos organizacionais comuns, que de forma individual não alcançariam. Já para as joint-ventures não existe a necessidade de proximidade geográfica.

Outro fator relacionado à tipologia de rede de PMEs, foi apresentado por Perrow (1992), ao destacar que essas redes estão cercadas por uma infra-estrutura que é essencial para sua sobrevivência e para sua economia, como: incentivos de governos locais e regionais; serviços educacionais; associações comerciais que fornecem informação econômica, treinamento e serviços de marketing. Esse ambiente, comumente encontrado nos distritos

 

 

industriais italianos, ampresentam uma forte contribuição no desenvolvimento de regiões e o próprio progresso das PMEs.

 

Deve-se destacar, também, que existem muitas tipologias de redes de PMEs, que poderiam estar localizadas em diversos pontos do mapa conceitual apresentado Marcon & Moinet (2000). Algumas são amplamente conhecidas, como o caso das redes verticais de subcontratação, em que as PMEs fornecem serviços e produtos para outras empresas. No entanto, as reflexões apresentadas neste item dizem respeito as redes horizontais de colaboração, em que as PMEs unem-se com a finalidade de somar esforços para determinados objetivos comuns.

Então, para melhor entender a tipologia das redes horizontais de cooperação entre PMEs, foco deste debate, devem ser observadas as seguintes características: a) congregam um grupo de PMEs; b) situam-se geograficamente próximas; c) operam dentro de um segmento específico de mercado; d) estabelecem relações horizontais e de cooperação entre os seus atores; e) são formadas para um indeterminado período de tempo; f) prevalecem relações de mútua confiança entre os atores; g) são estruturada sob mínimos instrumentos contratuais que garanta regras básicas para sua governança.

 

6. Considerações Finais

 

 

O presente estudo buscou compilar as contribuições de diferentes autores de modo a conduzir a evidências teóricas para uma melhor compreensão das configurações de redes interorganizacionais. Dessa forma, as principais evidências identificadas foram: a) as redes interorganizacionais são estudadas por diferentes correntes paradigmáticas (positivistas e não-positivistas) e perspectivas teóricas (economia industrial, estratégia, dependência de recursos, marxistas e críticas, institucional, redes sociais, custos de transação, comportamento organizacional, ecologia populacional, teoria evolucionária e contingencial) permitindo assim, uma ampla compreensão do fenômeno das redes; b) as redes interorganizacionais são formadas a partir de pressões contingenciais (necessidade, assimetria, reciprocidade, eficiência, estabilidade, legitimidade, flexibilidade e competitividade) e feitas possíveis pela existência de fatores viabilizadores (conectividade, coerência e infra-estrutura); c) as redes interorganizacionais apresentam atributos estratégicos (fluidez, economias relacionais, aprendizagem, economias de escala, acesso a recursos tangíveis, acesso a recursos intangíveis, redução dos custos de transação e credibilidade organizacional) que potencializam a performance das empresas em ambientes hipercompetitivos; d) as redes interorganizacionais podem ser classificadas a partir da observação de quatro elementos chaves (cooperação, hierarquia, contrato e conivência), possibilitando, dessa forma, uma ampla variedade de tipologias; e, e) a configuração de redes facilita as PMEs a alcançarem e manterem vantagens competitivas frente as grandes empresas.

 

Essas evidências teóricas possibilitam uma melhor compreensão das dimensões presentes na configuração de redes interorganizacionais.

 

 

Extraído de: http://www.anpad.org.br/admin/pdf/eneo2002-46.pdf

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