top of page

NOVOS CAMINHOS PARA A ADMINISTRAÇÃO

NOVOS CAMINHOS PARA A ADMINISTRAÇÃO

Com a derrocada do socialismo do tipo soviético a Administração viu-se transformada no “centro das atenções”, ganhando um destaque - na mídia, nas universidades, no mercado de trabalho – que nunca teve. Isso, se por um lado incentiva o empreendedorismo e a profissionalização da gestão, por outro lado incentiva a proliferação de “modismos organizacionais”, ou seja, a aplicação impensada de teorias sérias, ou a formulação insensata de “teorias” feitas para vender livros de “gurus” da Administração, ou “consultorias” caras que não resolvem problema nenhum, gerando um mercado de “palestras” e revistas de pouca seriedade.

As preocupações contemporâneas que cercam o mundo da Administração não param por aí: os impasses do fordismo, que incluem a questão ambiental e os problemas de energia do modelo que foi elaborado baseando-se no petróleo, introduziram na Administração novas frentes de pesquisa teórica e de aplicação prática: gestão ambiental, o desenvolvimento crescente do Terceiro Setor (não privado e não estatal) e a inclusão da responsabilidade social das empresas para minimizar os problemas gerados pelo afastamento dos governos desses problemas, após a crise do Estado do Bem Estar Social (que ficou muito caro nos países desenvolvidos, entre outras coisas pelo envelhecimento da sociedade). Alimentar a população crescente do planeta de modo saudável também é outro grande problema para a Administração.

 

A teoria da Administração encontra-se madura para enfrentar tantos desafios: a abordagem sistêmica e contingencial compreende tanto as variáveis internas da organização quanto os desafios externos (da economia, da política, da legislação, das mudanças ambientais etc.). Os novos profissionais da administração têm pela frente um trabalho ao mesmo tempo difícil e estimulante: encontrar, para cada empresa, uma solução flexível e inovadora, condizente com a cultura da sociedade onde a empresa está instalada, para fazer com que essa empresa seja lucrativa, geradora de empregos e pagadora de impostos justos para fazer com que o país seja bem sucedido como um todo – e sua população possa viver tranquila. Mas, claro, enquanto uma “cultura global” ainda está emergindo, parece ser bem complicado conciliar o “local” e o “global”.

Tratando especificamente das empresas, a temática da aprendizagem organizacional colocou-se então na “ordem do dia”, e certamente faz parte dos “novos caminhos” que o título desse texto aponta. Ela está relacionada à metáfora do cérebro, tal como foi exposta por Morgan em seu livro Imagens da Organização. Essa metáfora quer dizer que as organizações podem ser vistas como cérebros, isto é, organizações capazes de aprender e capazes de processar bem as informações para que boas decisões sejam tomadas. É claro que as decisões, embora busquem a perfeita racionalidade são limitadas pelas restrições comportamentais, afetivas, de cognição, de tempo e recursos (entre outras) às quais os seres humanos estão sujeitos. Enquanto “organizações de aprendizagem” é fundamental para as empresas “aprender a aprender”, isto quer dizer: evitar a aprendizagem “em circuito único” (mera repetição) e passar para o estágio “do circuito duplo”, quando passa a questionar as normas aprendidas e a melhorar o processo em que está envolvido. Morgan chama de “organização holográfica” a organização que, assim como os hologramas (um disco laser que guarda as informações do todo em cada parte) é capaz também de guardar um pouco do “todo” em capa parte (cada funcionário, por exemplo). Isso só pode ser possível se os indivíduos forem capazes de conhecer um pouco de toda a organização, estiverem conectados com todas as partes e, mesmo sendo especialistas, forem capazes de enxergar a totalidade e substituírem colegas, além de oferecer sugestões sobre outras áreas que não a sua.  Finalmente, os trabalhadores devem ser capazes de se auto-organizar, sem esperar o tempo todo que alguém dê ordens para executar as tarefas.

As organizações de aprendizagem (learning organizations) são essas organizações capazes de renovação contínua – como faz o cérebro. Peter Senge, que popularizou o termo, afirma que as organizações assim têm de ter uma concepção sistêmica que concilie o nível pessoal com o nível organizacional, além de serem capazes de questionar modelos mentais enraizados e de definir um objetivo comum para toda a organização. Isto vai possibilitar que, em trabalhos de construção conjunta, possam aprender e reaprender constantemente – a mola da inovação. As organizações têm de enraizar na cultura organizacional essa mentalidade de aprendizagem constante e, progressivamente, abandonar a ênfase excessiva nas estruturas departamentalizadas, buscando uma gestão dos processos, e não das áreas da organização. Algumas organizações também buscam tornar-se “descontraídas”, oferecendo benefícios “descolados” para os funcionários – sinuca, horários flexíveis – o que tenderia a estimular a criatividade, ou ao menos, reduzir o stress da competição acirrada do novo mundo globalizado. Seriam como “bandas de jazz”, encontrando soluções criativas e não padronizadas para problemas que também são, em grande parte, inéditos.

 

O conceito de “organizações virtuais” - as novas “estrelas” da Administração - ganhou vida com o surgimento da Internet: o site de leilões e-Bay, a Apple, a Microsoft, a loja Submarino, o Yahoo, o Facebook e o Google seriam exemplos de organizações que gravitam nesse universo. Pode-se dizer também que a parte das organizações “tradicionais” que atuam nesse meio é virtual: “internet banking”, as lojas Americanas.com, a PUC Minas Virtual, entre outras.

O fato é que a revolução da informação (que se expande exponencialmente a cada segundo) ensejou um novo modelo empresarial sempre em construção. O comércio eletrônico cresce a cada dia, mas apenas os “nativos digitais”, isto é, pessoas que nasceram já “dentro” desse meio sentem-se totalmente à vontade nele. Os desafios para a nova corporação virtual são enormes: a exclusão digital pela pobreza; a recusa de pessoas que receiam esse contato; a insegurança do meio devido ao risco de fraudes e vírus; a “velha cultura” que é difícil transformar etc. Além disso, têm de ser desenvolvidos novos modelos de gestão de pessoas (para o trabalho à distância, por exemplo), ferramentas de marketing para a internet; incluir novas preocupações com a logística de entrega e o provimento de serviços on-line, a gestão contábil e financeira pela web - com bolsas operando 24 h por dia em todo o globo. A overdose tecnológica cria o tempo todo novos instrumentos a serem incorporados na gestão, como “smartphones” e a “internet das coisas” e, cada vez mais, robôs sofisticados e inteligência artificial (a chamda indústria 4.0). É um novo mundo que apenas começou.

Com a tecnologia os custos para as empresas tendem a ser menores, mas os investimentos em informática, por outro lado, são altos. A gestão da informação aumenta a rapidez nas respostas entre os agentes envolvidos, mas a perda do contato humano pode ser um problema. As ferramentas digitais são uma enorme esperança de mais eficiência e eficácia, mas não se pode esquecer que os beneficiários não são “fantasmas eletrônicos” e sim homens e mulheres de carne e osso, seres biológicos, sociais e culturais. A possibilidade de um mau uso da imensa quantidade de dados pessoais que circula na rede é bem real: uso político, controle e manipulação de indivíduos e grupos a partir dessa massa de informações, chamada de “big data”. Um tipo complicado de “big brother” tornou-se inesperadamente real.

 

bottom of page