WANDERLEY NOVATO

NOVAS TECNOLOGIAS E SAÚDE MENTAL
TEXTO 1
Especialistas alertam para a ansiedade e o estresse gerados pela tecnologia
Um mundo hiperconectado, imediatista, com um volume de informações cada vez maior parece justificar esse boom de ansiedade na população (foto: EM / D.A Press)
A suspensão do aplicativo de mensagens instantâneas WhatsApp por 72 horas em todo o Brasil – impetrada pela Justiça de Sergipe ontem, alegando precisar de dados do aplicativo para desbaratar uma quadrilha –, levou milhares de brasileiros à histeria. A maioria correu para buscar alternativas gratuitas para conversar de forma ágil, por meio de outros apps.
Um mundo hiperconectado, imediatista, com um volume de informações cada vez maior parece justificar esse boom de ansiedade na população. Chegamos a culpar a tecnologia pela sensação de falta de tempo e estresse, mesmo sem podermos negar a facilidade e o conforto que os novos recursos nos oferecem.
Para se ter ideia, ansiolíticos são os medicamentos controlados mais usados no Brasil. O país é o maior consumidor do mundo de uma marca específica, que chegou a figurar entre os 10 remédios mais vendidos nas farmácias. Em 2015, foram comercializados 23 milhões de caixas desses remédios, que têm com princípio ativo o clonazepam, de acordo com a IMS Health, entidade privada especializada em informações da área da saúde. Para se ter uma ideia do crescimento, em 2007, foram vendidas 29 mil caixas.
Vivemos, desde meados dos anos 1960, no período chamado de era da informação, pós era industrial, caracterizada pela acentuada e contínua evolução tecnológica. E, para quem nasceu antes da internet, computadores e smartphones, ficam claros os impactos sociais, econômicos, políticos e psicológicos desses novos tempos. “Já temos que lidar com um volume maior de informações sobre todas as coisas desde a metade do século passado. E acho que é nessa linha que a tecnologia acaba se inserindo, de facilitar o acesso a essas informações e o contato com outras pessoas, de ficar disponível 24 horas por dia. Em inglês se chama information overload, ou sobrecarga de informação. E acabamos ficando muito sobrecarregados mesmo”, explica o psiquiatra Daniel Tornaim Spritzer, fundador e coordenador do Grupo de Estudos de Adições Tecnológicas (Geat), do Rio Grande do Sul.
nova realidade Mas as novas tecnologias influenciam em nosso comportamento? O acesso irrestrito a notícias, e-mails, redes sociais e mensagens instantâneas estressa? Estar conectado o tempo todo pode levar a transtornos mentais, como depressão e ansiedade? “Funcionamos de acordo com as realidades sociais em que estamos inseridos. Você tem uma nova realidade que é fundada com a internet. A realidade virtual faz parte de nossas vidas e é absolutamente real. Somos afetados subjetivamente, psicologicamente. E isso produz novas formas de pensar, novos comportamentos e formas de sentir”, diz Márcia Stengel, professora do programa de pós-graduação de psicologia da PUC Minas.
Há 10 anos pesquisando a dependência de tecnologia, Spritzer explica que o assunto está sendo levado cada vez mais a sério pela comunidade científica. O psiquiatra, porém, não acredita que só novos recursos tecnológicos possam levar a um transtorno. “São ferramentas criadas pelos homens, para homens e que os homens adoram. Essa facilidade toda que temos com tecnologias incríveis tem custo. Às vezes, os problemas estão nas características do ser humano se relacionar com tudo o que é novidade. O desafio para toda a sociedade é conseguir equilibrar essa balança de maneira que consiga aproveitar ao máximo os benefícios e ter o mínimo de prejuízo”, completa.
PREJUÍZOS
Mais que aumentar o risco de doenças de saúde mental, a tecnologia aparece como um novo canal para externar problemas do ser humano. E, com o acesso cada vez mais fácil a smartphones, computadores, games e internet, é natural que certos comportamentos criem conexão com o uso desses recursos. Foi isso que a psicóloga Márcia Stengel observou ao estudar os relacionamentos sociais dos adolescentes na internet. “Quando perguntávamos o que sentiam quando não conseguiam se conectar, eles relatavam um sentimento de ansiedade, raiva, nervosismo. Diziam sentir que não estar conectado era como estar fora do mundo, principalmente das redes sociais.”
Para Márcia, questões sobre estar inserido, ser aceito e 'curtido' são mais importantes para os adolescentes que para os adultos. E o ambiente virtual, conectado e imediatista, potencializa nossas reações. “Digo que a internet amplia determinadas coisas que já existem em nossas vidas. Esses comportamentos não são novidade, no sentido de nunca existir isso. Isso ocorre porque você consegue abarcar um número muito maior de gente instantaneamente”, complementa.
Quando o uso passa a trazer prejuízo para a vida da pessoa é que deve haver preocupação. Um jovem virar a madrugada no videogame não é, necessariamente, indício de problema. Se o uso contínuo do jogo eletrônico começa a atrapalhar com frequência outras atividades, como a escola e a vida social, já pode significar falta de controle. Pesquisa realizada na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, com 200 estudantes, demonstrou que vários deles apresentaram sintomas como ansiedade, sensação de isolamento e até coceira ao ser privados, por um dia, de aparatos tecnológicos. A reclamação mais comum era o fato de não acessarem aplicativos de mensagens de texto, e-mail e redes sociais. A dependência em estar conectado já até ganhou nome: nomofobia.
Daniel Spritzer esclarece que é preciso, como tudo na vida, fazer uma diferenciação entre o uso e o abuso das tecnologias. Como esses recursos estão inteiramente inseridos no dia a dia da população – em 2015, mais de 70 milhões de brasileiros utilizavam smartphones para acessar a internet, segundo estudo da Nielsen Ibope; mais de 50% das casas no país contam com acesso à rede mundial de computadores –, o diagnóstico de uma possível dependência é difícil. “É muito importante deixarmos claro que as novas tecnologias não ocasionam problemas de saúde mental. Só quando o uso é realmente muito intenso e disfuncional. Quando há uso anormal, patológico, que gera prejuízos, aí sim podemos falar que pode estar associado a transtornos mentais. E os sintomas mais comuns são perda de controle, quando a pessoa entra para ficar cinco minutos e sai duas horas depois; tenta parar e não consegue; se atrasa para compromissos, entre outras situações similares”, aponta.
Na visão de Aderbal Vieira Júnior, coordenador do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), “a própria ansiedade, na verdade, numa certa vertente, tem a ver com a impossibilidade de acessar o que se quer”. Segundo ele, a pessoa não está ansiosa quando está mexendo no celular. “Mas fica ansiosa quando está no trânsito, no cinema. Como qualquer dependência, a ansiedade não ocorre quando o caminho do uso está desimpedido. Basicamente, qualquer coisa que cause prazer, bem-estar, ou que, de alguma maneira, alivie um desconforto pode ser vivido numa dinâmica de dependência”, explica.
ENTREVISTA COM Anna Lucia Spear King (Psicóloga e fundadora do instituto Delete, vinculado ao Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Anna Lúcia é pioneira nos estudos do impacto das novas tecnologias no comportamento humano no Brasil e criou o Instituto Delete, especializado em “detox digital” e uso consciente de tecnologias. Primeiro núcleo do tipo no país, conta com profissionais de várias áreas que, além de produzir estudos sobre o tema, oferece suporte e tratamento gratuito a quem faz uso abusivo dos aparatos.
A tecnologia pode gerar transtornos mentais?
Desde os anos 1990 para cá, vivemos uma enxurrada de novas tecnologias no cotidiano. E não estamos sabendo como lidar com essa tecnologia. No cinema, no teatro, no trânsito, no trabalho, em salas de espera de hospitais. Qualquer hora é hora de usarmos o celular. Temos esse produto, mas não sabemos nos comportar. Esse é o uso excessivo. Isso, associado a algum transtorno mental preexistente, como ansiedade, depressão ou angústia, é potencializado. Manifesto no computador, no celular ou no videogame a condição que já existe em mim.
As pessoas sabem lidar com a conectividade 24 horas e esse acesso irrestrito a dispositivos tecnológicos?
Foi justamente por isso que, em 2013, fundei o Instituto Delete. Recebemos pessoas com queixa de uso abusivo, que ficam no celular o dia inteiro. Chegam a dormir do lado do aparelho. Só que muitos não sabem discernir se são usuários abusivos por lazer ou trabalho ou se têm algum transtorno relacionado. Fazemos uma triagem médico-psicológica para o diagnóstico. Trabalhamos com tecnologia e acabamos usando computador, celular e a internet por muitas horas. Mas, quando chegamos em casa, conseguimos nos desligar um pouco, sem deixar de fazer atividades físicas ou de lazer. Mas muitas pessoas têm um transtorno associado e não sabem discernir o limite entre o uso e o abuso. Usam excessivamente e começam a ter prejuízo na vida pessoal, social e familiar.
Como é feito o trabalho no Instituto Delete?
É preciso diferenciar o uso por lazer ou trabalho do abusivo. Se a pessoa não tem transtorno mental associado, orientamos sobre o uso consciente: limitar as horas de uso, cuidados com a postura, privilegiar a vida real em vez da virtual, praticar atividades físicas. Quando o uso abusivo está relacionado a algum transtorno, oferecemos o tratamento médico-psicológico gratuito. Se a pessoa é ansiosa, compulsiva, deprimida, tem fobia social, tratamos o transtorno de origem.
As gerações mais novas são mais afetadas pelo uso indiscriminado de recursos tecnológicos?
Percebemos o uso abusivo mais em crianças e adolescentes. E os pais dessas crianças, que deveriam atuar na relação delas com a tecnologia, não tiveram essa ‘educação digital de berço’. Pais usando a tecnologia de maneira equivocada no dia a dia dão exemplo para as crianças. Adolescentes estão tendo problemas de coluna, visão e articulação correspondentes aos de uma pessoa de 70 anos, porque estão, desde cedo, sentados de maneira errada no computador, usando o celular, sem fazer atividade física.
Quais os problemas do uso abusivo das tecnologias?
Não somos contra as tecnologias, pelo contrário. Facilitam muito nossa vida, em todos os aspectos. Mas o uso indiscriminado pode trazer prejuízos físicos, como lesões na coluna, problemas de visão, obesidade. Não sabemos, inclusive, se as ondas eletromagnéticas do celular estão causando algum dano ao cérebro. Nem tempo hábil tivemos para estudos científicos. Somos cobaias de muitas pesquisas, das quais só saberemos os resultados no futuro. As pessoas toda hora abaixam a cabeça para olhar o celular, o que gera problemas grave na coluna cervical. Há ainda a distração que o celular ocasiona. Se você dirige a 80km/h e se distrai por quatros segundos para ler uma mensagem, percorre 100 metros sem olhar para a frente. Segundo Departamento Nacional de Trânsito, houve aumento de 400% no número de acidentes de trânsito pelo uso do celular no Brasil.
TEXTO 2
As novas tecnologias e os riscos para a saúde mental
Andreia Eunice Pinto Magina - Enfermeira Especialista em Saúde Mental e Psiquiátrica na Unidade de Cuidados na Comunidade de Oliveira de Azeméis ACES EDV II
Em: http://www.atlasdasaude.pt/publico/content/novas-tecnologias-e-os-riscos-para-saude-mental
A saúde mental pode ser afetada por vários fatores. Nos últimos tempos tem-se falado da dependência das novas tecnologias, que fazem parte do dia a dia da maioria das pessoas. ‘Smartphones’, ‘tablets’ e ‘laptops’ que, para além da dependência mental, podem conduzir a perturbações do comportamento e a lesões físicas. Por exemplo, a luz azul violeta que brilha no ecrã dos ‘smartphones’ é potencialmente perigosa e tóxica à parte de trás dos olhos. Pode também existir o risco de lesões nos olhos, o risco de ficar com dores nas costas e no pescoço.
Para além das “más posturas”, e que ocorrem de forma sistemática, também a utilização excessiva destes dispositivos pode provocar problemas relacionais, interferir na comunicação entre as pessoas, levar a acidentes quando utilizados durante a condução de viaturas, ocupar excessivamente o tempo da pessoa ao ponto desta perder horas que poderiam ser investidas noutras atividades pessoais ou mais sociais. Mesmo as lesões físicas podem posteriormente comprometer a saúde mental.
Provavelmente muitas pessoas sofrem desta dependência que pode ficar fora do controlo, trazendo graves consequências, quer a nível físico, como mental. É muito frequente assistirmos à não comunicação familiar, por exemplo num restaurante em que cada um fica em “diálogo” com o seu dispositivo, esquecendo a relação com o outro. Há quem diga mesmo que todos precisaríamos de uma desintoxicação ou de umas férias das tecnologias.
O aparecimento destes dispositivos, veio também revolucionar o mundo do trabalho, transformando-o numa realidade com alguns riscos, principalmente quando não são geridos de forma sensata e equilibrada. Quase dois terços das pessoas continuam a trabalhar no regresso a casa do emprego, ou em casa, tornando-se "escravas” das novas tecnologias. Esta mudança de comportamento e atitude perante esta nova realidade leva a que os trabalhadores fiquem sobrecarregados e com excesso de trabalho, podendo prejudicar a vida pessoal e social, com todas as consequências para a saúde mental que daí podem resultar.
Curiosamente, estudos recentes revelam que a exposição excessiva a estas novas tecnologias pode provocar alterações nas ligações entre os neurónios (células do cérebro) que ocorrem nos centros de atenção, controlo e processamento de emoções e que são semelhantes às que existem nos casos de dependência por drogas. Por exemplo na China, já existem clínicas de tratamento para pessoas que apresentem este tipo de dependência. Na Coreia do Sul o fenómeno está classificado como uma crise de saúde pública, segundo a Associação Americana de Psiquiatria, para justificar a introdução desta perturbação na próxima revisão do Manual de Perturbações Mentais.
A Associação Americana de Psiquiatria pensa introduzir a “Perturbação de Uso da Internet” no próximo manual de Perturbações Mentais. A verdade é que na prática, já se vão diagnosticando situações destas no terreno e que necessitam de tratamento, acompanhamento psicológico e psiquiátrico. A utilização maliciosa das novas tecnologias pode atingir diretamente ou indiretamente as pessoas.
A questão dos novos dispositivos leva a algumas preocupações, nomeadamente com as crianças e jovens, que estão muitas horas por dia expostas às radiações e adotando posturas incorretas, cada vez mais precocemente. Para além destas questões, o uso excessivo destes dispositivos ”corta” a comunicação entre os pares.
Quem já não viu jovens, cada um com o seu dispositivo eletrónico sem estabelecer comunicação verbal com aqueles que o rodeiam? Assim percebe-se que estas práticas comprometem fortemente a comunicação e por isso as competências sociais/relacionais, a capacidade de comunicar eficazmente, a memória e a concentração. E quando as pessoas estão expostas a mais que um ecrã ao mesmo tempo (por ex., TV, telemóvel e tablet)? O risco ainda é maior.
Sabemos que com toda a oferta que existe nos dias de hoje, e pelas características atrativas que estes dispositivos possuem, não é tarefa fácil educar as crianças para a não utilização excessiva destes dispositivos. Teremos que investir e reinventar novas formas de sensibilizar o cidadão e desde muito cedo, para todos os riscos inerentes à utilização desequilibrada das novas tecnologias, principalmente para os da área da saúde mental, uma vez que ainda falta comprovar muitos dos riscos físicos.
TEXTO 3
Oito novas doenças provocadas pelo uso da Internet
Evan Dashevsky, TechHive.com
A Internet é um buffet infinito de vídeos de gatos, TV e Instagrams de celebridades. Mas ela também pode estar aos poucos levando você à beira da insanidade. E não estamos aqui usando nenhuma figura de linguagem.
À medida que a Internet evoluiu para ser onipresente da vida moderna, testemunhamos o aumento de uma série de transtornos mentais distintos ligados diretamente ao uso da tecnologia digital. Até recentemente, esses problemas, amenos ou destrutivos, não tinham sido reconhecidos oficialmente pela comunidade médica.
Algumas dessas desordens são novas versões de aflições antigas, renovadas pela era da banda larga móvel, enquanto outras são criaturas completamente novas. Não fique surpreso se você sentir uma pontinha de - pelo menos - uma ou duas delas.
Síndrome do toque fantasma
O que é: quando o seu cérebro faz com que você pense que seu celular está vibrando no seu bolso (ou bolsa, se você preferir).
Alguma vez você já tirou o telefone do bolso porque o sentiu tocar e percebeu depois que ele estava no silencioso o tempo todo? E, ainda mais estranho, ele nem estava no seu bolso para começo de conversa? Você pode estar delirando um pouco, mas não está sozinho.
Segundo o Dr. Larry Rosen, autor do livro iDisorder, 70% dos heavy users (usuários intensivos) de dispositivos móveis já relataram ter experimentado o telefone tocando ou vibrando mesmo sem ter recebido nenhuma ligação. Tudo graças a mecanismos de resposta perdidos em nossos cérebros.
"Provavelmente sempre sentimos um leve formigamento no nosso bolso. Há algumas décadas nós teríamos apenas assumido que isso era uma leve coceira e teríamos coçado", diz Rosen em entrevista ao TechHive.
"Mas agora, nós configuramos o nosso mundo social para girar em torno dessa pequena caixa em nosso bolso. Então, sempre que sentimos um formigamento, recebemos uma explosão de neurotransmissores do nosso cérebro que podem causar tanto ansiedade quanto prazer e nos preparam para agir. Mas ao invés de achar que é uma coceira, reagimos como se fosse o telefone que temos que atender prontamente", completa.
No futuro, com a computação vestível, há o risco da doença evoluir para novas formas, como, por exemplo, usuários de Google Glass começarem a ver coisas que não existem porque seu cérebro está ligado a sinais típicos do aparelho.
Nomophobia
O que é: a ansiedade que surge por não ter acesso a um dispositivo móvel. O termo "Nomophobia" é uma abreviatura de "no-mobile phobia" (medo de ficar sem telefone móvel).
Sabe aquela horrível sensação de estar desconectado quando acaba a bateria do seu celular e não há tomada elétrica disponível? Para alguns de nós, há um caminho neural que associa diretamente essa sensação desconfortável de privação tecnológica a um tremendo ataque de ansiedade.
A nomophobia é o aumento acentuado da ansiedade que algumas pessoas sentem quando são separadas de seus telefones. E não se engane, pois não se trata de um #FirstWorldProblem(problema de primeiro mundo). O distúrbio pode ter efeitos negativos muito reais na vida das pessoas no mundo todo. E é mais intenso nos heavy users de dispositivos móveis
Tanto que essa condição encontrou seu caminho na mais recente edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5, ou Manual Diagnóstico e Estatístico de Distúrbios Mentais) e levou a um programa de tratamento dedicado à Nomophobia no Centro de Recuperação Morningside em Newport Beach, Califórnia.
"Estamos condicionados a prestar atenção às notificações dos nossos telefones", disse Rosen. "Somos como os cães de Pavlov, de certa forma. Você vê as pessoas pegarem seus celulares e dois minutos depois fazerem a mesma coisa, mesmo que nada tenha ocorrido. Isso é impulsionado pela ação reflexa, bem como pela ansiedade para se certificar de que não ter perdido nada. É tudo parte da reação FOMO (Fear Of Missing Out, ou medo de estar perdendo algo)."
Náusea Digital (Cybersickness)
O que é: a desorientação e vertigem que algumas pessoas sentem quando interagem com determinados ambientes digitais.
A última versão do iOS, sistema operacional móvel da Apple, é uma reivenção plana, versátil e bonita da interface do usuário móvel. Infelizmente, ela também faz as pessoas vomitarem e forneceu o mais recente exemplo da doença.
Assim que a nova versão do iOS foi liberada para os usuários de iPhone e iPad no mês passado, os fóruns de suporte da Apple começaram a encher com reclamações de pessoas que sentem desorientação e náuseas depois de usar a nova interface.
Isso tem sido atribuído em grande parte ao efeito que faz com que os ícones e a tela de abertura pareçam estar se movendo dentro de um mundo tridimensional abaixo do visor de vidro.
Essas tonturas e náuseas resultantes de um ambiente virtual foram apelidadas de ciberdoença. O termo surgiu na década de 1990 para descrever a sensação de desorientação vivida por usuários iniciais de sistemas de realidade virtual. É basicamente o nosso cérebro sendo enganado e ficando enjoado por conta da sensação de movimento quando não estamos realmente nos movimentando.
Depressão de Facebook
O que é: a depressão causada por interações sociais (ou a falta de) no Facebook.
Os seres humanos são criaturas sociais. Então você pode pensar que o aumento da comunicação facilitada pelas mídias sociais faria todos nós mais felizes e mais contentes. Na verdade, o oposto é que parece ser verdade.
Um estudo da Universidade de Michigan mostra que o grau de depressão entre jovens corresponde diretamente ao montante de tempo que eles gastam no Facebook.
Uma possível razão é que as pessoas tendem a postar apenas as boas notícias sobre eles mesmos na rede social: férias, promoções, fotos de festas, etc. Então é super fácil cair na falsa crença de que todos estão vivendo vidas muito mais felizes e bem-sucedidas que você (quando isso pode não ser o caso).
Tenha em mente que esse crescimento da interação das mídias sociais não tem que levar ao desespero.
O Dr. Rosen também conduziu um estudo sobre o estado emocional dos usuários do Facebook e identificou que, enquanto realmente há uma relação entre o uso do Facebook e problemas emocionais como depressão, os usuários que possuem um grande número de amigos na rede social mostraram ter menor incidência de tensão emocional.
Isso é particularmente verdade quando o uso da mídia social é combinado com outras formas de comunicação, como falar ao telefone.
Moral da história: 1) não acredite em tudo o que seus amigos postam no Facebook e 2) pegue o telefone de vez em quando.
Transtorno de Dependência da Internet
O que é: uma vontade constante e não saudável de acessar à Internet.
O Transtorno de Dependência da Internet (por vezes referido como Uso Problemático da Internet) é o uso excessivo e irracional da Internet que interfere na vida cotidiana. Os termos "dependência" e "transtorno" são um pouco controversos na comunidade médica, já que a utilização compulsiva da Internet é vista frequentemente como sintoma de um problema maior, em vez de ser considerada a própria doença.
"Diagnósticos duplos fazem parte de tratamentos, de modo que o problema está associado a outras doenças, como depressão, TOC, Transtorno de Déficit de Atenção e ansiedade social", diz a Dra. Kimberly Young. A médica é responsável pelo Centro de Dependência da Internet, que trata de inúmeras formas de dependência à rede, como o vício de jogos online e jogos de azar, e vício em cibersexo.
Além disso, ela identificou que formas de vício de Internet geralmente podem ser atribuídas a "baixa autoestima, baixa autossuficiência e habilidades ruins".
Vício de jogos online
O que é: uma necessidade não saudável de acessar jogos multiplayer online.
De acordo com um estudo de 2010 financiado pelo governo da Coreia do Norte, cerca de 18% da população com idades entre 9 e 39 anos sofrem de dependência de jogos online. O país inclusive promulgou uma lei chamada "Lei Cinderela", que corta o acesso a games online entre a meia-noite e às 6 da manhã para usuários com menos de 16 anos em todo o país.
Embora existam poucas estatísticas confiáveis sobre o vício em videogames nos Estados Unidos, o número de grupos de ajuda online especificamente destinados a essa aflição aumentou nos últimos anos. Exemplos incluem o Centro para Viciados em Jogos Online e o Online Gamers Anonymous, que formou o seu próprio programa de recuperação de 12 passos.
Embora a atual edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders não reconheça o vício em jogos online como um transtorno único, a Associação Psiquiátrica Americana decidiu incluí-lo em seu índice (ou seção III), o que significa que estará sujeito a mais pesquisa e pode eventualmente ser incluído junto a outras dependências não baseadas em substâncias químicas, como o vício em jogos de azar.
"Quando você é dependente de algo, seu cérebro basicamente está informando que precisa de certas substâncias neurotransmissoras, particularmente a dopamina e a serotonina, para se sentir bem", diz o Dr. Rosen. "O cérebro aprende rapidamente que certas atividades vão liberar essas substâncias químicas. Se você é um viciado em jogos de azar, tal atividade é o jogo. Se você é um viciado em jogos online, então a atividade é jogar vídeogames. E a necessidade de receber os neurotransmissores exige que você faça repetidamente a atividade para se sentir bem."
Cibercondria, ou hipocondria digital
O que é: a tendência de acreditar que você tem doenças sobre as quais leu online.
O corpo humano é um magnífico apanhado de surpresas que constantemente nos presenteia com dores misteriosas, aflições e pequenos inchaços que não estavam ali da última vez que verificamos. Na maioria das vezes, essas pequenas anormalidades não dão em nada.
Mas os vastos arquivos de literatura médica disponíveis online permitem que a nossa imaginação corra solta em todos os tipos de pesadelos médicos!
Teve uma dor de cabeça? Provavelmente não é nada. Mas, de novo, a WebMD diz que essas dores de cabeça são um dos sintomas de tumor no cérebro. Há uma chance de você morrer muito em breve! É esse o tipo de pensamento que passa pela cabeça de um cibercondríaco - que juntam fatores médicos para chegar às piores conclusões possíveis.
E isso está longe de ser incomum. Em 2008, um estudo da Microsoft descobriu que autodiagnósticos feitos a partir de ferramentas de busca online geralmente levam os "buscadores aflitos" a concluir o pior. A hipocondria sempre existiu, claro, mas antes as pessoas não tinham a Internet para ajudar a pesquisar informações médicas às três da manhã. A cibercondria é apenas uma hipocondria com conexão banda larga.
"A Internet pode exarcebar os sentimentos existentes de hipocondria e, em alguns casos, causar novas ansiedades. Porque há muita informação médica lá fora, e algumas são reais e válidas e outras contraditórias", disse o Dr. Rosen. "Mas, na Internet, a maioria das pessoas não pratica a leitura literal da informação. Você pode encontrar uma maneira de transformar qualquer sintoma em milhares de doenças terríveis. Você alimenta essa sensação de que está ficando doente."
O efeito Google
O que é: a tendência do cérebro humano de reter menos informação porque ele sabe que as respostas estão ao alcance de alguns cliques.
Graças à Internet, um indivíduo pode facilmente acessar quase toda a informação que a civilização armazenou ao longo de toda sua vida. Acontece que essa vantagem acabou alterando a forma como nosso cérebro funciona.
Identificada algumas vezes como "The Google Effect" (ou efeito Google) as pesquisas mostram que o acesso ilimitado à informação faz com que nossos cérebros retenham menos informações. Ficamos preguiçosos. Em algum lugar do nosso cérebro está o pensamento "eu não preciso memorizar isso porque posso achar no Google mais tarde".
Segundo o Dr. Rosen, o Efeito Google não é necessariamente uma coisa ruim. Ele poderia ser visto como o marco de uma mudança social, uma evolução que apontaria para o nascimento de uma população mais esperta e mais informada. Mas também é possível, admite ele, que tenha resultados negativos em certas situações. Por exemplo, um jovem adolescente não memorizar a matéria das provas porque ele sabe que a informação estará no Google quando ele precisar, diz o médico.