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O mercado dos chocolates no Brasil

(Texto construído a partir de informações variadas, unicamente para uso em aula; as fontes estão no final)

O mercado de chocolate no Brasil está sendo observado por empresas tradicionais deste ramo e também por companhias que enxergam oportunidades de sucesso ao investir no acesso de classes mais baixas a produtos de qualidade. Embora já tenha ocupado o quarto, hoje o país ocupa o quinto lugar no ranking mundial de consumo per capita de chocolate, segundo a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados).

Esse mercado pode ser dividido, para efeitos de estudo, em quatro grandes segmentos. Na cadeia de baixo preço e baixo valor percebido pelo cliente, as marcas de produção industrial local, formando um segmento denominadas “tradicionais”. No extremo oposto, no segmento denominado aqui por “gourmet”, encontramos as chamadas chocolatarias artesanais com produtos de alto preço e alto valor agregado percebido pelos clientes. Este mercado atende a um público que aceita pagar por produtos e serviços exclusivos e busca lojas consideradas boutiques de chocolates finos. No segmento denominado “premium”, observa-se a presença da Kopenhagen, tradicionalmente posicionada. Aqui se verifica a entrada da marca internacional Lindt, que foi trazida pelo próprio grupo controlador CRM, que detém 49% de sua participação acionária no Brasil. Por fim, o setor de grande importância econômico-financeira, que é o segmento denominado “democráticos”. É exatamente neste segmento que a chamada “guerra dos chocolates” está sendo travada no mercado brasileiro. Iniciado pela visão empreendedora do proprietário da Cacau Show, cresceu vertiginosamente nos últimos anos, provocando a reação do grupo CRM que, quando percebeu sua magnitude, lançou a marca alternativa Brasil Cacau para disputá-lo.

Nas últimas Páscoas, Cacau Show e Brasil Cacau venderam juntos cerca de 10 milhões de ovos. É um número expressivo, mas pequeno se comparado aos gigantes do mercado. Só a fabricante Lacta, líder do setor de chocolates, produziu 23 milhões de unidades para colocar nas gôndolas de supermercados, padarias e magazines.

Quando a Cacau Show entrou no mercado deve ter previsto a iniciativa do Grupo CRM (detentor da marca Kopenhagen, que tem quase cem anos de tradição) de lançar a Brasil Cacau, voltada principalmente para a classe C. Isso porque em julho de 2006, a Kopenhagen lançou uma linha de bombons batizada de Mania, com o objetivo de atrair consumidores mais jovens e de menor poder aquisitivo. A campanha publicitária ficou a cargo da agência Fala!, especializada em varejo popular, que contratou a cantora Ivete Sangalo como garota-propaganda. Ao todo, foram investidos cerca de 6 milhões de reais no lançamento, incluindo tanto as ações de marketing como as adaptações na fábrica para produzir os bombons. Apesar do alto investimento, o produto teve uma sobrevida de apenas três meses nas lojas. "Foi uma combinação estranha, a personalidade da Ivete Sangalo não casava com a tradição e o perfil da Kopenhagen", diz Marcus Rizzo, consultor da área de franquias. "Os displays da cantora nas lojas, por exemplo, eram desproporcionais ao refinamento da decoração." Para a Kopenhagen, a experiência deu o retorno esperado. "Era uma promoção por período limitado e vendemos 7 milhões de bombons da linha em três meses", diz Renata. Bem-sucedida ou não, a iniciativa reforçou dentro da empresa a necessidade de o grupo ter marcas diferenciadas para a baixa renda. Então a empresa comprou a DanTop, cujo principal produto é um doce à base de marshmallow e cobertura de chocolate - versão popular da Nhá Benta, da Kopenhagen, mas que custa um vigésimo do preço. Sob o controle da Kopenhagen, a DanTop passou por um processo de reformulação e foi relançada em um projeto piloto na região de Campinas. Brasil Cacau e DanTop compunham o que os especialistas em varejo chamam de marcas de combate, uma tendência usada em empresas de diversos setores, ligada à expansão do consumo de baixa renda. A Kopenhagen, com os planos de expansão do grupo em direção à baixa renda, passou a enfrentar desafios inéditos, e a DanTop posteriormente foi desativada.

Entre os maiores ‘players’ estão a Brasil Cacau e Cacau Show; ambas contam com muitas centenas de pontos-de-venda em todo o país, e o objetivo das duas é se tornar referência para os consumidores das classes B e C que apresentam novos hábitos de consumo. Prova desta mudança é que a taxa de crescimento do mercado de chocolates no Brasil é de 12% contra 6% em todo o mundo, segundo a Abicab.

Um pouco mais sobre as empresas

A Cacau Show acena com o título de maior rede de franquias de alimentação do Brasil, dado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF). A rede é pioneira em mercados populares e seu surgimento deu início a uma saborosa “guerra” de chocolates no país. A empresa nasceu em 1988, mas sua primeira loja surgiu em 2001. Depois de 30 anos de atuação, a marca atende em quatro formatos: Loja - com conceito moderno de varejo, oferece a experiência completa de produtos e serviços; Quiosque - pontos de venda com atendimento prático e rápido; Gelateria - somente em grandes centros, oferta gelatos italianos inspirados em sucessos da marca; Chocolateria - principais produtos sempre em destaque e perto do consumidor. O fundador, Alexandre Costa foi eleito o Empreendedor do Ano 2011 pela Ernst & Young Terco, realizada em Monte Carlo, no Principado de Mônaco. Foi o único brasileiro a representar o País no circuito mundial da premiação. A empresa está buscando investir em ações sociais através de um instituto em que oferece atividades gratuitas a crianças e jovens, em São Paulo.

Com um posicionamento baseado em uma gama de produtos de chocolates finos, a Cacau Show mantém seus preços alinhados com todos os públicos, segundo o Gerente de Marketing da rede, Stefenson Soalheiro. A abrangência da Cacau Show é traduzida pelo número de lojas em operação no Brasil. O principal diferencial da marca é o mix de produtos. Há uma linha diet, uma linha vegana, produtos com cacau em vários percentuais, caixas de presente que exploram situações de consumo, e kits diversos que incluem objetos como copos, canecas e outros. Nem sempre foi assim, mas hoje a marca lança também produtos mais sofisticados, associando-se e aprendendo com empresas europeias, segmento em que a Brasil Cacau, por ser originária da Kopenhagen, tem mais experiência e conhecimento. E esse é um mercado em que também atuam outras marcas, como a Nugali e a AMMA, que não se preocupam tanto com a popularidade, focando estratégias em produtos ‘gourmet’ para públicos de mais alta renda e com preocupações específicas.

A Brasil Cacau nasceu com DNA brasileiro e este é o principal ingrediente e diferencial de seus produtos. A proposta não é diferente das grandes redes e a marca planeja com cuidado a abertura de cada loja. Tanto nas ruas como nos shoppings, a escolha dos endereços anda junto ao trabalho de branding da Brasil Cacau. “A brasilidade e a diversidade são os principais elementos dos cerca de 120 itens que a marca oferece no mercado. Este é o nosso diferencial”, diz Adriane Ura, gerente de Marketing da Brasil Cacau.

A sua expansão foi curiosa, porque foi mais que o dobro da planejada. A partir de 2009, aproveitando a onda de ser uma marca mais acessível para a chamada nova classe média, a meta era abrir 100 lojas no ano, mas foram 268. Assim, a CBC, como é chamada internamente, ficou maior do que a irmã rica, a Kopenhagen. Renata Moraes Vichi, vice-presidente do grupo, afirma que as dificuldades do crescimento foram várias, principalmente quanto à estrutura administrativa na organização, para dar suporte a tantos franqueados novos, além da ampliação do centro de distribuição. Mas, segundo ela, o maior desafio é mudar a mentalidade, sair de um conceito de marca segmentada [a Kopenhagen] e entender como pensa e se comporta esse nosso novo consumidor. “Na Kopenhagen, ele senta, come uma Nhá Benta com calma. Na Brasil Cacau ele entre e pede 50 trufas. É totalmente diferente”.

O ritmo de crescimento da marca foi iniciado com a campanha de marketing no Big Brother, em 2013. A rede tem algumas lojas próprias, o restante pertence a franqueados, mas no Big Brother a marca posicionou-se ao lado da Unilever, da Ambev, ou seja, se comportou como gigante, mesmo sendo pequena. Embora as lojas próprias se concentrem em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte a marca é agressiva: se encontra um bom ponto comercial, e não encontra franqueados porque as luvas são altas, a empresa inicia operação da loja e, depois, quando houver a oportunidade, vende. Para não ter que operar franquias e varejo simultaneamente, no momento de pensar nas comemorações dos 85 anos da Kopenhagen e acompanhar o crescimento da Brasil Cacau, a Dan Top acabou saindo de cena. Hoje a marca cuida bem da sua imagem, e também investe em ações sociais de vários tipos.

A Nugali, de Santa Catarina, brasileira com tradição europeia, afirma ser uma das únicas marcas no Brasil a realmente fabricar seu próprio chocolate, das amêndoas de cacau ao tablete, com teores mais altos de cacau, a mais pura manteiga de cacau e baunilha natural, produzidos seguindo a tradição dos melhores chocolatiers europeus. Seus produtos foram premiados no International Chocolate Awards em 2016, 2017 e 2018. Oferece em Pomerode, em meio à natureza das montanhas de Santa Catarina, um parque temático e educativo para visitas turísticas. Afirma que seu compromisso com a sustentabilidade está presente em toda a sua cadeia produtiva, desde o suprimento de suas matérias primas até a entrega de seus chocolates ao consumidor final. A empresa utiliza em sua fábrica energia solar, faz reuso da água da chuva, e é uma empresa certificada Lixo Zero, com reaproveitamento das cascas de cacau e compostagem (para adubo) de todos os resíduos orgânicos que não podem ser reciclados. As embalagens internas são feitas com biofilme 100% biodegradável e as caixinhas externas são recicláveis. É uma empresa carbono neutro, porque faz o balanço de suas emissões de CO2, reduz ao máximo suas emissões e compensa todos os gases de efeito estufa gerados direta ou indiretamente de sua produção; mantém também um programa de logística reversa, em parceria com catadores de resíduos.

A empresa afirma seus princípios de empresa ESG, que vão muito além da aplicação de normas ambientais. É uma signatária ODS - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. O cultivo dos cacaus utilizados é feito em um sistema agroflorestal sustentável; além disso, a empresa mantém uma área de 30 000 m² de floresta secundária da Mata Atlântica, em regeneração, que abriga plantas e animais da fauna e flora catarinenses. Mantém também em seus jardins centenas de árvores nativas do bioma, adquiridas junto à APREMAVI (Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida), como: ipês, manacás-da-serra, manacás-de-cheiro, ingás e muitas outras. São espécies nectaríferas e poliníferas, importantes para insetos e aves da região. A empresa preocupa-se com a biodiversidade, utilizando abelhas brasileiras, ameaçadas pelo desmatamento, na polinização das flores do cacaueiro. Finalmente, a preservação cultural é um dos pilares ESG Nugali: a fábrica foi construída preservando uma das tradições culturais da região, instalada na “Rota do Enxaimel”, uma área tombada pelo IPHAN (Instituto Nacional do Patrimônio Histórico).

A AMMA tem forte compromisso ecológico. Seus ingredientes vêm de comunidades parceiras que vivem em regiões da Amazônia e Mata Atlântica do Sul da Bahia que produzem cacau orgânico e biodinâmico em áreas de cultivo agroflorestal. Entre os selos e certificações ela alinha: a) Produto Vegano (SVB): os produtos são certificados pela SVB por não conter qualquer insumo de origem e exploração animal, em nenhuma das fases de produção. Todos os produtos da AMMA são veganos; b) Orgânico Brasil: atesta que o produto provém de uma produção orgânica, da sua origem e em todo processo de produção, obedecendo às normas estabelecidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), garantindo um alimento que não seja prejudicial para a saúde humana e para o meio ambiente; c) USDA Organic:  certifica entrada e comercialização de alimentos orgânicos nos Estados Unidos. A empresa além disso atende todas às normas europeias, desde a produção, processamento, rotulagem e comercialização dos produtos orgânicos, assim podemos comercializar nossos produtos na Comunidade Europeia; d) Kosher: este certificado garante que os produtos respeitam as normas e costumes da comunidade judaica; e) Halal: é o certificado que garante que, na produção dos chocolates são seguidas todas as diretrizes do Alcorão, para venda para países islâmicos. 

 A empresa, além disso, faz parte do chamado Sistema B, comunidade que reúne empresas envolvidas em um movimento global que propõe uma nova direção para a economia. Vai além do limitador caráter financeiro; está ligado à ética e colaborativismo, um sistema no qual as corporações assumem o compromisso de estar no mercado com ações que geram impacto e mudanças positivas na vida das pessoas e no meio ambiente. Em 2018 e 2019 houve o reconhecimento o dessa comunidade global, na categoria Meio Ambiente, como uma das empresas que mais promovem impacto positivo no planeta.

Perfis de consumo


As diferenças entre essas marcas não são apenas na história de cada uma, nos produtos ou no tamanho das empresas. Apesar de sabor que a grande maioria dos consumidores de chocolates são considerados “viciados” no produto, o perfil é diferente para cada empresa. “O chocolate agrada a todos os gêneros. Há clientes estimulados pelo consumo imediato, os que desejam presentear e também os que gostam de permanecer nas lojas degustando cafés e fondues ao som da Rádio Cacau Show FM”, explica Soalheiro, da Cacau Show.

De olho nos novos consumidores, a Brasil Cacau busca um público-alvo que tende a experimentar produtos novos e que são abertos a novas experiências. “Nossos consumidores são formados por pessoas que recentemente experimentaram novos hábitos de consumo e tiveram acesso a produtos diferentes dos que consumia antes”, aponta Adriane.

A Nugali aposta na diferenciação originada pela tradição europeia, alinhada à alta qualidade e sofisticação, enquanto a AMMA tem sua preocupação fortemente alicerçada no compromisso ecológico e com a responsabilidade social.

Mesmo atuando em um mercado onde os consumidores se emocionam com uma marca ao ver uma simples cascata de chocolate, a Cacau Show sabe da importância de estratégias de marketing bem definidas e alinhadas com a necessidade dos consumidores. “Investimos principalmente em precificação, mix de produtos, situações de consumo e merchandising”, afirma o executivo. Para a Cacau Show o visual merchandising, o atendimento, as embalagens e o aroma do chocolate são conceitos fortes para a experiência do consumidor com a marca.

Na Brasil Cacau o foco do departamento de marketing está no trabalho de branding. A estratégia envolve desde a escolha dos pontos-de-venda adequados até anúncios impressos. “Acreditamos que quem experimenta o produto se apaixona. Por isso investimos forte em merchandising e degustação em lojas”, diz Adriane. Além disso, nos pontos-de-venda da Brasil Cacau, os consumidores se servem à vontade, de acordo com a sua preferência, o contrário da Kopenhagen. Entre as opções de compra, o consumidor pode escolher produtos a granel, embalados ou em caixa.

O mercado hoje de chocolates no Brasil hoje

Há quem diga que este não é o momento para empresas investirem em produtos como o chocolate por conta da preocupação maior do consumidor com saúde e bem-estar. Pensando nisso, a Brasil Cacau desenvolve porções menores e produto feitos de puro cacau. “Buscamos oferecer o que o chocolate tem de saudável, que é o puro cacau. Além disso, todos os produtos levam manteiga de Cacau e esta informação conta na embalagem”, ressalta a gerente de Marketing da Brasil Cacau.

O crescimento da busca por hábitos saudáveis não atrapalha os planos da Cacau Show. Segundo Stefenson Soalheiro, as propriedades do chocolate vêm sendo estudadas e já há indícios de que os níveis de flavonóides atuam contra o mau colesterol e é um estimulante natural para o organismo. A preocupação se estende à linha de produtos dietéticos e veganos, ricos em percentual de cacau, entre 70% e 85%,

O fato é que a produção brasileira de balas e gomas aumentou 11,7% no primeiro semestre de 2022, segundo a associação industrial Abicab. A produção destes doces para o primeiro semestre no Brasil, um dos maiores mercados mundiais, foi estimada pelo grupo em 132 mil toneladas, ante 118 mil toneladas no mesmo período de 2021. Ubiracy Fonseca, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), disse que as empresas elevaram o planejamento para a comemoração do Halloween, ou Dia das Bruxas, pois a demanda por produtos aumenta a cada ano.

A produção de chocolate no Brasil, quinto maior mercado mundial para o produto (já esteve em quarto lugar), aumentou 11,43% no primeiro semestre de 2022 em comparação com o mesmo período do ano anterior. As indústrias de chocolate na maior economia da América Latina produziram 370.000 toneladas do produto de janeiro a junho, em comparação com 332.000 toneladas no primeiro semestre de 2021, disse a Abicap, citando dados coletados pela consultoria KPMG.O presidente da Abicap disse que os números confirmam uma recuperação do setor após a pandemia de coronavírus. Ele também disse que a diversificação na linha de produtos ajudou as empresas a aumentar as vendas. A AIPC, outro grupo industrial que representa os processadores de cacau, estima que a moagem brasileira de cacau aumentou 8,4% em agosto, para 19.693 toneladas.

O mercado de chocolate no Brasil – ainda há lugar?

Conhecida como a terra do cacau, Ilhéus, no litoral sul da Bahia, que chegou a ser uma das principais regiões produtoras mundiais do fruto, perdeu essa posição desde a década de 1980, por causa da doença chamada vassoura-de-bruxa. Mas a praga, que dizimou boa parte das plantações e levou muitos agricultores ao endividamento e à falência, não assustou um grupo de produtores obstinados que não apenas se mantiveram na atividade, como também começaram a enfrentar a crise, convencidos de que o cacau pode ser a base de um negócio lucrativo. Para ganhar a guerra, em vez de ficarem apenas na lavoura, eles começaram a verticalizar a produção e transformar suas propriedades em fazendas de chocolate.

Esse é o caso dos irmãos Leonardo e Leandro Reis Almeida, que acabam de investir R$ 3 milhões na construção de uma fábrica de chocolate inaugurada neste mês. Eles, que também plantam soja e trigo em Goiás, começaram a cultivar cacau ao comprar a fazenda Riachuelo, que estava em ruínas, na década de 1990, com 260 hectares de pés da fruta. Atualmente, a fazenda é um complexo cacaueiro com 1,2 mil hectares, galpões de armazenamento e secagem, laboratórios e maquinários modernos, além da fábrica novinha em folha.

A produtividade atual é de 70 arrobas por hectare (cada arroba equivale a 15 quilos), um resultado e tanto comparado ao de décadas passadas. Quando os irmãos Reis Almeida assumiram o controle da fazenda, a produtividade era de 7,5 arrobas por hectare, menos de um terço da atual média brasileira, de 25 arrobas, e apenas 8% das 90 arrobas por hectare produzidas antes da praga. “Tivemos muito trabalho para levantar a fazenda”, diz Leonardo. Além de produzir pouco, não havia rede elétrica, estradas e galpões. “O antigo proprietário não investia e até mesmo deixava de colher os frutos, por achar que a atividade não compensava”.

A arrumação da casa tinha uma meta: agregar valor à produção de cacau. Após a recuperação das plantações e de muita pesquisa em busca de amêndoas de qualidade superior, a matéria-prima se transformou na marca própria de chocolates finos Mendoá, processados em uma fábrica terceirizada. “Agora, com nossa fábrica podemos buscar mais qualidade para o cacau”, diz Leonardo. O desafio dos irmãos, que chegaram a exportar para a Europa antes da crise de 2008, é rentabilizar o produto gourmet pronto para o consumo. Das atuais 65 mil arrobas de cacau colhidas por ano na Riachuelo, 13 mil são de amêndoas especiais. Na Bahia, o cacau superior está cotado a R$ 280 a arroba, enquanto o comum não sai por mais de R$ 70.

A fábrica da Mendoá tem capacidade para processar 150 quilos de chocolate gourmet por dia. Ao preço de R$ 200 por quilo, isso significa uma receita potencial de R$ 11 milhões por ano. “O restante continuará sendo vendido como commodity às empresas que processam a fruta na região”, diz Leonardo. A marca começou a ser vendida em cafeterias e casas especializadas de Salvador neste mês. Mas o plano é abrir lojas próprias em shoppings de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Belo Horizonte. Cada loja deverá receber um investimento de cerca de R$ 500 mil. “Estamos vendo que é possível ganhar dinheiro com cacau”, diz Leandro. “O brasileiro está aprendendo a conhecer chocolate de alta qualidade e o mercado é promissor”.

Segundo o administrador de empresa Juvenal Maynart, superintendente regional da Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira, na Bahia (Ceplac), com sede no município, o movimento de criação das fazendas de chocolate tende a crescer ainda mais. Ele afirma que, dos 15 mil pequenos produtores da região de Ilhéus, pelo menos 20 já possuem fábricas e que nos próximos anos a expectativa é de que outros 20 abram suas próprias unidades. “É uma mudança considerável de status”, diz Maynart. “Embora a Bahia seja reconhecida como a terra do cacau, ela não tem a tradição de fabricar chocolate.” Para o diretor do Ceplac, a abertura de pequenas fábricas também pode ajudar a atrair mais pessoas para uma região que chega a receber cerca de 200 mil turistas por ano, entre eles muitos estrangeiros. “Até pouco tempo atrás, o turista achava que iria comer muito chocolate em ilhéus, mas não encontrava o doce”, diz o executivo. “Hoje, isso começa a mudar”.

Para o produtor Henrique Almeida, dono de duas fazendas de 60 hectares de cacau na região, o turismo pode, de fato, alavancar os negócios. No final de julho, o produtor era um dos participantes do Festival Internacional do Chocolate e Cacau, que reuniu um público de 20 mil pessoas em Ilhéus. O evento itinerante acontece todos os anos em uma cidade baiana. Almeida aproveitou o festival para buscar parceiros que quisessem investir em uma fábrica de chocolate. Para atrair empreendedores, ele apresentou toda a cadeia produtiva de sua marca de chocolate gourmet, a Sagarana, atualmente processado em uma unidade terceirizada. A estratégia deu certo. Quando o festival chegou ao fim, Almeida contava com dois sócios: Marco Lessa, um dos organizadores do evento, e dono da marca de Chocolate Chor, e Guilherme Moura, presidente da câmara Setorial Nacional do cacau e dono da marca Costa Negro.

Com a sociedade sacramentada, eles investirão R$ 1,5 milhão na construção de uma fábrica com capacidade para produzir mil arrobas de chocolate por ano. As marcas próprias permanecerão no mercado, mas sob um único guarda-chuva chamado “Cacau Fino, Chocolate de Verdade”. Os primeiros produtos da nova parceria devem chegar ao consumidor em janeiro do próximo ano, em lojas franqueadas na Bahia. “Na sequência, vamos abrir lojas próprias em São Paulo e outras capitais”, diz Almeida.

Almeida e seus sócios pretendem reproduzir a experiência da produtora Diva Landenberger, dona da fazenda Berg Frut, cuja fábrica de chocolate começou a operar em 2010. Para ela, o investimento valeu a pena. “Hoje tenho um negócio que só prospera”, afirma Diva. Até o final deste ano, a produtora que cultiva uma área de 70 hectares deve quitar um financiamento bancário de R$ 400 mil, dinheiro que foi utilizado para construir a sua pequena indústria, com capacidade para processar 200 quilos de chocolate por dia. Ela também tem duas lojas próprias que faturam R$ 100 mil por temporada, na região, e pretende abrir mais duas lojas. “Já dei uma olhada em Gramado, no Rio Grande do Sul, e Campos do Jordão, em São Paulo”, diz. “São cidades turísticas com forte apelo para o consumo de chocolate e, por isso, um bom local para fixarmos nossa marca”. Para expandir os negócios, Diva aposta em um portfólio diversificado. “Não adianta só fazer o chocolate amargo e achar que vai ganhar mercado”, diz.

Na Chocolateria Berg Frut há barras do doce com até dez formulações, variando de 25% a 100% de concentração de cacau, além da mistura de frutas. A empresária acredita que o movimento de industrialização do cacau pode dar à cultura baiana o mesmo prestígio que ela possuía na época em que o escritor Jorge Amado se inspirava para contar suas histórias. Em uma obra escrita em 1943, o escritor dizia que “No sul da Bahia, cacau é o único nome que soa bem”. Para os empresários da região, esse baiano nascido em Itabuna, a 30 quilômetros de Ilhéus, nunca esteve tão certo.

Observação: Esse texto é, intencionalmente, e para fins de estudo, uma fotografia limitada deste mercado, que continua se movimentando. Em setembro deste ano a Nestlé Brasil comprou a Kopenhagen e Brasil Cacau, mas a gestão do Grupo CRM, dono das duas marcas de chocolates, seguirá sob a responsabilidade da atual CEO, Renata Vichi.

Fontes (os textos foram adaptados, atualizados e alinhados unicamente para uso em aula): Sites das empresas mencionadas; https://vejasp.abril.com.br/cidades/kopenhagen-brasil-cacau-cacau-show-guerra-dos-chocolates/; https://www.dinheirorural.com.br/as-fantasticas-fazendas-de-chocolate/;; https://www.suafranquia.com/noticias/alimentacao-e-food-service/2009/03/kopenhagen-lanca-uma-marca-voltada-a-consumidores-de-baixa-renda/; https://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Empresa/noticia/2013/09/grupo-crm-investe-na-brasil-cacau-e-deixa-o-dan-top-de-lado.html; A guerra dos chocolates: Uma análise estratégica sobre o mercado brasileiro de chocolates (Neto, Francesconi e Pedroso, SEMEAD, 2015).

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