WANDERLEY NOVATO
Estudo de caso - MADD
Quando sua filha de 13 anos foi morta por um motorista bêbado em 1980, na Califórnia, Candace Lightner, uma pacata dona de casa transformou sua tristeza e indignação em uma causa, e criou uma barulhenta associação - MADD - Mothers Against Drunk Drivers (ou Mães contra Motoristas Bêbados). Trata-se de uma organização sem fins lucrativos, inicialmente presente apenas nos Estados Unidos, mas que se expandiu pelo mundo, que luta contra o ato de dirigir embriagado. Seu rol de ações inclui a luta pelo aumento da punição a quem comete esse delito, e, ao mesmo tempo, o apoio às vítimas de acidentes causadas por esse problema social. Para isso, seus participantes tentam criar mais mecanismos para impedir o consumo de álcool por menores de idade, além da adoção de uma legislação mais restritiva para a venda de álcool em certos regiões e contextos sociais. A organização, que era inicialmente uma sala alugada, foi crescendo significativamente. “Zero mortes. Zero lesões. Zero famílias afetadas por direção negligente” – são as palavras inspiradoras.
Os seus dirigentes afirmam que suas ações reduziram à metade os acidentes causados por motoristas embriagados. É impossível assegurar que esse número seja exato, mas o que surpresa para muitos é que a história veiculada pela organização que cresceu a partir dos protestos de uma mãe indignada não é exatamente a versão correta de como os fatos se passaram no interior da organização.
Candace Lightner fundou a organização e automaticamente autonomeou-se presidente. Enquanto seu espírito aguerrido era saudado com entusiasmo e a organização conseguia vitórias políticas importantes, nada parecia estar errado. No entanto, ficou claro que o que ela entendia por “presidência” era mais do que os participantes achavam razoável. Ela alterava prioridades, marcava reuniões em horários inapropriados, dirigia aos colegas rígidas cobranças. Seu comportamento era às vezes bastante ostensivo – e ela começou a ser chamada de “Mad Queen” – ou Rainha Louca, num trocadilho com o nome da entidade que criou. Suas atitudes começaram então a criar impedimentos para uma trajetória desejável e razoável de expansão; ela desejava estar sempre informada de tudo, e exigia que fosse sempre sua a palavra final sobre qualquer assunto. A organização era como uma extensão da sua casa – o seu domínio.
No início ninguém tinha coragem para enfrentar esse problema, visto que, como fundadora, era a face mais visível e da organização para o público. Mas esses conflitos começaram a ficar mais evidentes, até que um dia, após uma desavença sobre os planos futuros da organização, ela resolveu afastar-se.
O processo foi doloroso para os dois lados, mas a decisão parece ter sido acertada. Há hoje pelo menos um escritório MADD em todos os estados dos Estados Unidos e um em cada província do Canadá; há inclusive um escritório no Brasil. Esses escritórios oferecem serviços às vítimas – como custear advogados, e muitas outras ações, todas ligadas à mesma causa. Essas ações, no entanto, foram sendo ampliadas – e hoje incluem a luta contra outras drogas ilícitas em sua associação ao ato de dirigir, ações de marketing mais eficazes para conseguir mais adesões e doadores fiéis, lobbies nas câmaras legislativas, ações educativas, eventos (como caminhadas) em todos o país, venda de inúmeros artigos, como roupas, agasalhos, bonés e mochilas, dezenas de parceiros, que vão desde Google, Uber, NFL e AMA - e bastante visibilidade na mídia.
No entanto, há críticas externas, que vão desde o “exagero” de certas posturas da organização (quanto à dureza proposta para a legislação, entre outras coisas) e internas, de que a organização cresceu muito, e que parte das suas receitas, por isso, vão para salários dos gestores e funcionários e para cobrir a burocracia – e não diretamente para a causa.